Um dos principais objetivos da COP28 era a implementação de um acordo climático para a área de agricultura. No segundo dia da Conferência do Clima, 134 países assinaram a Declaração sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática, que reconhece a conexão entre as mudanças climáticas e a produção de alimentos e a importância da adoção de medidas de adaptação.
Neste domingo, 10, um balanço desse acordo inédito foi apresentado em uma coletiva de imprensa. Um dos avanços alcançados nos últimos dias foi o aumento do número de países signatários, que agora chega a 152.
“Isso significa que estamos cobrindo 5,9 bilhões de pessoas, 518 milhões agricultores, 73% de toda a comida que comemos e 78% das emissões de gases do efeito estufa que estão vindo do setor de alimentação e agricultura. Colocar esta declaração em prática, alcançando agora 152 apoios significa que essa é uma vontade política dos países para garantir que os sistemas alimentares e agricultura sejam parte das NDCs, parte da estratégia nacional de biodiversidade e parte dos planos de adaptação nacionais”, declarou a ministra de Mudança Climática e Meio Ambiente dos Emirados Árabes Unidos e líder do debate sobre sistemas alimentares na COP28.
A ministra ressaltou que houve avanços na mobilização de verba para a área. Até o momento, foram assumidos compromissos de investimento da ordem de US$ 83 bilhões, mas há a expectativa de arrecadar mais recursos e, principalmente, uma preocupação em fazer com que esse dinheiro chegue de fato aos agricultores.
“Eu acredito que a COP28 é um ponto de virada para os sistemas alimentares e agricultura. Com a vontade política que nós fomos capazes de captar ao longo dos dias, a mobilização dos fundos, as ferramentas que fomos capazes de criar, acho que veremos nos próximos meses grandes impactos com dinheiro sendo direcionado a essas áreas”, acrescentou.
A coletiva contou ainda com a participação de ministros e chefes de delegações de outros países, incluindo a brasileira Marina Silva. A ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima avaliou de forma positiva a declaração, pois demonstra um alinhamento com outra conquista desta COP, que foi o acordo relacionado ao Fundo de Perdas e Danos.
Para ela, no contexto atual são os sistemas alimentares e as populações vulneráveis os mais afetados pelas perdas e danos decorrentes das mudanças climáticas e, portanto, devem ser atendidos prioritariamente.
“No Brasil, nos últimos 10 anos, tivemos uma perda de cerca de US$ 57 bilhões em relação à questão agrícola e a maior parte disso tem a ver com a parte de produção de alimentos. Para os países vulneráveis, a diminuição da produção em função de eventos extremos, seja por grandes estiagens seja por chuvas torrenciais afeta sobretudo os mais vulneráveis, as pessoas pobres. Isso aumenta o preço dos alimentos e cada vez mais se tem um sistema em cadeia que vai desestruturando outros aspectos da vida e da dinâmica das pessoas”, exemplificou Marina Silva.
A ministra considera que o comprometimento multilateral nessa área exige a adoção de medidas que fortaleçam, por exemplo, a adoção de tecnologias que resultem no aumento de produtividade, mas também a valorização dos conhecimentos das populações tradicionais associados à agricultura e a cooperação técnico-cientifica
“As mudanças climáticas estão afetando muito drasticamente os aspectos sociais, econômicos e culturais de segmentos de populações no mundo que já não conseguem mais viver das formas como historicamente viviam em seus processos produtivos”, reiterou a ministra, salientando a importância do tema.
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) lançou neste domingo, 10, um roteiro para acabar com a fome no mundo sem aumentar a temperatura da terra.
Por Fabrício Queiroz