Hoje, a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou na COP28 um roteiro global que visa eliminar a fome e todas as formas de subnutrição sem exceder o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris .
O Roteiro Global para Alcançar o Objet ivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS2) sem ultrapassar o limite de 1,5°C , o primeiro do gênero para a alimentação, descreve uma estratégia que abrange os próximos três anos – ou seja, passa por COP28, COP29 e COP30, em Belém) e um grupo diversificado de soluções em dez domínios de ação distintos.
Tendo em vista que 600 milhões de pessoas enfrentem a fome crônica até 2030 e uma crise climática global crescente, o roteiro apela a uma mudança transformadora nos sistemas agroalimentares. Desafia a narrativa predominante de que o aumento da produção é sinônimo de maiores emissões e degradação ambiental.
Em vez disso, enfatiza a oportunidade dentro dos sistemas agroalimentares para melhorar a eficiência da produção, alinhando-se simultaneamente com os objectivos de mitigação, adaptação e resiliência climática.
Especialistas elogiaram a iniciativa, mas afirmaram que o roteiro tem limitações. O texto enfatiza produtividade e ganhos de eficiência, o que é essencial, mas subestima a necessidade de aumentar a diversidade da produção de alimentos.
Outra lacuna é o não alinhamento com as metas da COP de Biodiversidade, não mencionando o acordo global entre 188 países obtido há apenas um ano. O roteiro também não se atenta para o desequilíbrio de poder no setor, dominado por multinacionais, e pede mais engajamento com aqueles que farão parte da mudança, como pequenos produtores, mulheres e povos indígenas e tradicionais.
Mas há acertos. Entre eles, as metas específicas para metano, nitrogênio e florestas.
De acordo com Ruth Davis, membro da European Climate Foundation e associada sênior da Smith School of Enterprise and Environment em Oxford, disse que “o mundo precisa desesperadamente de um roteiro que nos aponte para um futuro mais justo, mais resiliente e sustentável para os sistemas alimentares”, mas o relatório da FAO não vai nos levar “até ao destino que necessitamos”.
“Os marcos do roteiro significam que as empresas e os governos não têm agora desculpa para ignorar os alimentos nos seus planos climáticos. Mas faltam elementos vitais, incluindo um enfoque muito mais forte na natureza, que os próprios cientistas da FAO reconhecem ser crucial para garantir a segurança alimentar”.
Para ela, o próximo roteiro da FAO deve se orientar pelos objetivos e metas acordados por 188 governos no ano passado num acordo global histórico, devem orientar a próxima iteração do roteiro da FAO – ou todos corremos o risco de estar no caminho para lado nenhum.”
Já Emile Frison, do Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis afirma que a FAO merece aplausous pela iniciativas, mas acredita ser pouco provável que estas propostas que priorizam a eficiência sejam suficientes para “tirar-nos do caminho da alta poluição, dos combustíveis fósseis e da fome em que nos encontramos”.
“As próximas rondas deste processo terão de ir muito mais longe na proposta de uma verdadeira transformação do status quo, colocando muito mais ênfase na diversificação, nas cadeias de abastecimento mais curtas e na agroecologia, e no combate às enormes desigualdades de poder impostas por um punhado de empresas. que definem o que cultivamos e comemos.”