A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) divulgou durante a COP28 um boletim que trata do impacto das mudanças climáticas na região, ressaltando aspectos como o aumento da temperatura, do desmatamento, das queimadas e do garimpo ilegal, bem como a redução do nível de chuvas e as consequências de todos esses fenômenos atingem diferentes populações indígenas.
O documento traz recortes e análises dos dados sobre a situação em cada estado da Amazônia Legal. No caso do Pará, foi notado que as chuvas abaixo da média criaram cenários de seca nas regiões nordeste, central e noroeste do estado. A situação mais grave atingiu a terra indígena (TI) Kayabi, localizada na divisa com o Mato Grosso.
Além disso, o levantamento, baseado em fontes como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Agência Nacional de Águas (ANA), mostra que o Pará, Acre, Amapá, Tocantins e Maranhão têm convivido com uma tendência negativa de precipitação, que varia de 2,1 mm a 50 mm.
Em toda a região também foi possível identificar anomalias relacionadas ao aumento de temperatura, que passou de 28ºC a 30ºC, em média no ano de 2022 para 30ºC a 36ºC neste ano. Esse aquecimento de aproximadamente 30% foi sentido principalmente nas regiões oeste e sudoeste do Pará e no centro e sul do Amazonas.
Queimadas
Outro aspecto analisado foi a grande incidência de focos de queimada em terras indígenas. As maiores ameaças foram sobre o Parque do Tumucumaque, que contabilizou 471 focos de calor do início do ano até 7 de novembro. As terras indígenas Apiterewa, que está passando por um processo de desintrusão, e Cachoeira Seca, localizada entre Altamira, Placas e Uruará, também registraram altos índices de queimadas, com 250 e 195 focos de queimada, respectivamente.
Já em relação ao desmatamento, o boletim destaca que o Pará foi o que mais perdeu áreas de floresta de 2008 a 2022. No período analisado, a devastação ultrapassou 49,5 mil Km², superior a todo o território do estado do Espírito Santo.
Somente nos últimos dois anos, a TI Apiterewa acumulou desmatamento de 233,98 km². Em seguida, aparecem Cachoeira Seca, com 123,36 km² desmatados e a TI Ituna / Itatá com perda de 79,73 km². As três figuram como as três mais ameaçadas pela devastação.
Arco do desmatamento
Em relação ao fenômeno de derrubadas da floresta e desmatamento como um todo das diferentes regiões da Amazônia Brasileira, observa-se que há um projeto de consolidação do arco de desmatamento no Brasil, onde estados que se destacam pela dimensão de destruição da Amazônia e doCerrado como Pará, Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Maranhão, indicam maior vulnerabilidade frente aos fenômenos de desmatamento que se estabiliza na região central, sul, leste e nordeste da Amazônia Brasileira.
Portanto, por estarem localizados nesse eixo de desmatamento, as terras indígenas destes estados estão mais suscetíveis às ameaças e pressões nos territórios relacionadas às práticas de desmate.
Para a Coiab, a divulgação dos dados durante a COP28 serve para expor a vulnerabilidade a que os povos indígenas estão sujeitos no atual cenário de mudanças climáticas, assim como ajuda na cobrança para medidas efetivas sejam tomadas para a mitigação desses impactos e proteção das populações.
“Não há vida indígena sem a floresta em pé. Este efeito climático nos prejudica. O boletim é mais um alerta da necessidade para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e da necessidade de justiça climática para os povos indígenas”, afirma a gerente de Monitoramento Territorial Indígena da Coiab, Vanessa Apurinã.