Um estudo inédito reforça um alerta importante sobre o avanço do desmatamento na Panamazônia. O MapBiomas Amazonía – Coleção 5.0 apresentado nesta sexta-feira, 8, em Dubai, durante a COP28, mostra que dos 844 milhões de hectares do bioma na América do Sul, cerca de 136 milhões de hectares foram devastados. Isso representa uma perda de 16% da cobertura nativa da região.
O levantamento foi feito com imagens de satélite que consideram a área florestal brasileira, mas também as regiões de bioma amazônico na Colômbia e Venezuela, a bacia amazônica no Equador, Peru e Bolívia, as bacias hidrográficas do Amazonas e Araguaia-Tocantins, além do território da Guiana, Guiana Francesa e Suriname, abrangendo 47% da América do Sul.
A principal conclusão aponta para o aumento dos chamados usos antrópicos (ou seja, ação do homem) nas últimas década. O ano de referência do mapeamento é 1985, quando foi detectado uma perda 51 milhões de hectares. Já em 2022, outros 85 milhões de hectares haviam sido convertidos, o que representa um crescimento de 169% nesse intervalo de tempo.
De acordo com o estudo, a pecuária é o principal vetor do desmatamento na região, já que dos 84 milhões de hectares foram convertidos em áreas agropecuárias e de silvicultura, sendo que somente a abertura de pastos corresponde a 66,5 milhões de hectares. Ou seja, a cada 4 hectares desmatados, três foram ocupados pela produção de gado.
No caso específico do Brasil, o MapBiomas mostra que a perda do bioma foi de 14% nos últimos 37 anos, reduzindo a extensão da Amazônia de 521,9 milhões de hectares para cerca de 450 milhões de hectares.
Além disso, a pesquisa indica que a conversão de florestas em pastagens é mais intensa no chamado Arco do Desmatamento, que compreende desde o Pará ao Acre, sobretudo ao longo dos principais eixos rodoviários. Contudo, o impacto da exploração mineral também chama atenção. No período de 1985 a 2022, a atividade cresceu 1367% e já atingiu quase meio milhão de hectares.
Nos demais países da América do Sul, a devastação foi mais significativa na Bolívia, Colômbia, Peru e Equador, onde as perdas de cobertura nativa variaram de 4% a 10%. Por outro lado, a Guiana, a Guiana Francesa, o Suriname e a Venezuela tiveram desmatamento entre 0,1% e 1% no mesmo período.
Ainda segundo o levantamento, em todo o território analisado a maior parte da supressão vegetal ocorre em áreas florestais, que já perderam mais de um quarto da sua cobertura original. A presença de apenas 73,4% das florestas originais preocupa os pesquisadores, já que esse percentual está dentro do limiar aceitável pela ciência para que a Amazônia mantenha sua capacidade de autorregeneração e não seja ultrapassado o ponto de não retorno.
Os dados e mapas da análise são abertos a consulta pública neste site.