O avanço constante das mudanças climáticas está tornando o planeta e os diversos ecossistemas mais vulneráveis a transformações significativas que afetam sua capacidade de autorregeneração. Um relatório recém-publicado por um grupo de mais de 200 pesquisadores destaca que medidas urgentes precisam para evitar os chamados pontos de não retorno, inclusive na Amazônia.
Apresentado na COP28, em Dubai, o estudo, foi elaborado pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, em parceria com o Bezos Earth Fund, e conta com a colaboração de brasileiros: Cristiano Mazur Chiessi, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), e Marina Hirota e Bernardo Flores, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que se dedicaram às análises relacionadas à região amazônica.
Para se entender o que significa o ponto de não retorno, um exemplo é o processo de degradação da Floresta Amazônica. Segundo a Fapesp, o bioma responde à degradação com a regeneração, mas a degradação pode atingir um tal patamar que, se não for urgentemente interrompida, a floresta tende a chegar, em pouco tempo, a um ponto no qual já não consiga mais se regenerar e manter suas feições próprias. A partir dai, em vez de ser predominantemente uma armazenadora de carbono, a floresta se transformaria em emissora, intensificando o aquecimento global.
Marina Hirota afirma que já é possível notar um aumento de 2º a 4ºC na temperatura do planeta e que esse fenômeno, aliado a problemas como o desmatamento, tem repercussões diretas sobre a dinâmica e a capacidade de autorregeneração da floresta.
“Se continuarmos como estamos, a mudança de temperatura global afetará o regime de chuvas e de temperatura regionais na Amazônia de uma forma que ficará insustentável ter floresta”, afirma a pesquisadora, ressaltando que o impacto sobre a região é capaz de alterar também outros sistemas ecológicos.
Escalada de aquecimento
A pesquisa detalha ainda os efeitos que devem ser notados a cada escalada no aquecimento. O atual aumento de 1,2ºC representa risco para recifes de corais e também para camadas de gelo da Groelândia e Antártida Ocidental, por exemplo.
Caso a temperatura suba mais de 1,5ºC, regiões de floresta boreal, manguezais e pradarias se tornarão mais vulneráveis. Já o aquecimento global de 2°C ou mais pode levar ao colapso da Amazônia. Contudo, o estudo reforça que a floresta amazônica pode tombar mesmo com elevação menor na temperatura se os processos de devastação continuarem.
“Mesmo que as emissões de carbono ou o desmatamento fossem zerados neste momento, por exemplo, ainda teríamos impactos relevantes na Amazônia”, alerta a professora da UFSC.
Recomendações
Para evitar as consequências dos pontos de não retorno, os pesquisadores apontam medidas necessárias, como a eliminação gradual do uso de combustíveis fósseis antes de 2050, redução das emissões de gases do efeito estufa, a adoção de estratégias coordenadas para enfrentar os riscos, inclusão e avaliação permanente do tema na elaboração do Global Stocktake (GST) nesta e futuras edições da COP, entre outras medidas.
“Estamos em um momento no mundo crucial para mudar a trajetória socioeconômica do nosso planeta, já que as nossas escolhas têm impacto nos ecossistemas do mundo, inclusive nos do Brasil”, destaca Marina Hirota.