O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU publicou na segunda-feira, 28/02, seu mais recente relatório feito pelos mais importantes pesquisadores que estudam as mudanças no clima. O documento alerta que caso as temperaturas aumentem, aumentará também o risco à vida, a partir do aumento do calor e da umidade.
Diz que tanto seres humanos como a natureza em geral estão sendo pressionados além de sua capacidade de adaptação. Se o aumento em temperaturas for mantido abaixo de 1,5 grau Celsius acima dos níveis da era pré-industrial, as perdas projetadas atualmente podem ser reduzidas.
Com cada 0,1ºC de aquecimento, mais pessoas morrem de estresse por calor, problemas cardíacos e pulmonares por calor e poluição do ar, doenças infecciosas, doenças causadas por mosquitos e fome, dizem os autores. Se o mundo aquecer apenas mais 0,9ºC a partir de agora a quantidade de terra queimada por incêndios florestais em todo o mundo aumentará em 35%.
A ONU afirma o que tem sido já propalado há anos: muitos dos impactos do aquecimento global são agora “irreversíveis”, mais de 40% da população mundial é “altamente vulnerável” ao estado do clima, ou seja, pelo menos 3,3 bilhões de pessoas.
Entre 2010 e 2020, o número de mortos em enchentes, secas e tempestades em regiões vulneráveis, incluindo partes da África, sul da Ásia e Américas do Sul e Central, foi 15 vezes maior que o total em outras partes do mundo. Corais estão sendo “embranquecidos” e morrendo devido ao aumento das temperaturas, enquanto muitas árvores estão sucumbindo às secas.
Segundo o documento, as crianças de hoje, se ainda estiverem vivas no ano de 2100, vão passar por quatro vezes mais extremos climáticos do que passam agora – mesmo se houver apenas mais alguns décimos de grau de aquecimento na temperatura do planeta.
“Nosso relatório claramente indica que lugares onde pessoas vivem e trabalham podem deixar de existir, que ecossistemas e espécies com que nós crescemos e que são centrais para nossas culturas e compõem nossas línguas podem desaparecer”, afirmou a professora Debra Roberts, co-presidente do IPCC.
Amazônia
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Jean Ometto, coautor de um dos capítulos do relatório, disse à Agência Cenarium que os eventos extremos impactam, sobretudo, no clima regional da Amazônia e na produção de bens agrícolas.
Ele lembra que a Amazônia tem perdido a capacidade em absorver carbono. Pelo fato de a floresta ser tropical e úmida e ter uma grande diversidade de vegetação, a região acaba sendo relativamente sensível a períodos de secas muito longos, principalmente, quando associados à degradação do meio ambiente e ao desmatamento.
“Nas regiões da Amazônia onde esses processos são mais intensos, a gente tem observado um aumento de temperatura um pouco maior e que isso afeta a fisiologia da floresta, que é um ser vivo, precisa de água e de condições adequadas para sobreviver. E quando essas condições deixam de acontecer, aquele ser passa a ter algum problema. Dentro desse contexto, a floresta hoje emite um pouco mais de carbono do que absorve. E em um dos capítulos, colocamos que se a temperatura global passar de 2ºC, alguns processos de degradação florestal, de capacidade de reter carbono, são irreversíveis. Mas isso é uma projeção, não uma observação”, afirmou Ometto.
Doenças e animais
Algo que temos dito por aqui, no cenário descrito pelo estudo, doenças se espalharão mais rapidamente nas próximas décadas. Existe um risco específico de que condições climáticas em transformação facilitarão a disseminação da dengue entre bilhões de pessoas a mais até o final deste século.