A expansão do plantio de grãos, como a soja, é um dos principais fatores associados ao aumento do desmatamento na Amazônia. A abertura de áreas de floresta nativa para produção de commodities gera receita para o agronegócio, mas, por outro lado, a região perde uma série de serviços ambientais e benefícios socioeconômicos que a floresta pode proporcionar.
Um estudo publicado por pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Universidade Federal do Pará (UFPA) nesta segunda-feira, 27, na revista Ambiente & Sociedade fez um cálculo sobre o tamanho dessa perda considerando o impacto em apenas uma região do leste da Amazônia. Segundo os autores, as perdas acumuladas nos últimos 36 anos na bacia do Gurupi chegam a R$ 10 bilhões.
A bacia do rio Gurupi, localizada entre os estados do Pará e do Maranhão, foi escolhida para o estudo devido ao impacto do desmatamento na região. De 1985 a 2021, a área florestal reduziu 25%, enquanto as áreas agrícolas cresceram 92%, segundo dados do MapBiomas.
Com a mudança no padrão de uso da terra, a soja ganhou espaço e hoje ocupa cerca de 84% dos terrenos destinados à agricultura. Uma transformação que não favorece às populações nem o desenvolvimento local, pois a produção é destinada exclusivamente à exportação, como analisa a doutora em Ecologia e pesquisadora do Museu Goeldi, Ima Vieira.
“Todo esse plantio enfraquece as funções dos ecossistemas naturais, como a regulação do clima, a qualidade da água e a polinização, que são serviços importantes prestados pela floresta. Se a área de floresta é reduzida, esses serviços também se reduzem”, explicou a pesquisadora à Agência Bori.
Para analisar o impacto dessas mudanças, o estudo calculou as perdas utilizando uma base de dados global que mapeia a economia dos ecossistemas e da biodiversidade. Entre os prejuízos causados estão a redução da polinização, que impacta diretamente na agricultura; e a regulação do clima que prejudica as populações humanas e animais.
Na avaliação dos especialistas, a valoração serve não apenas para evidenciar as perdas econômicas, mas também para alertar a população e os tomadores de decisão sobre a necessidade de criação de políticas públicas de conservação e estímulo a atividades econômicas compatíveis com a biodiversidade. Uma das ideias é que sejam criados incentivos financeiros para atividades produtivas mais sustentáveis e que tragam benefícios econômicos e socias para as populações da região.
“Comunidades locais, como as populações quilombolas que vivem na região do Gurupi, podem se beneficiar de políticas nacionais de pagamentos por serviços ambientais”, sugere Ima Vieira.