Por Fabrício Queiroz
A emergência climática está no centro do debate global, com questões como o combate ao desmatamento, a conservação da biodiversidade e a busca pela promoção do desenvolvimento sustentável. A centralidade da Amazônia nessa agenda de discussões, focalizando o seu papel para o presente e o futuro do mundo foram os principais pontos abordados no encerramento da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, ocorrido nesta sexta-feira, 1, em Belém.
Em um cenário em que as bases da economia ainda estão assentadas na exploração de recursos naturais por meio da mineração ou com o avanço de atividades sobre territórios preservados, o pesquisador da Universidade de Londres Paul Ekins apresentou uma prévia de um estudo que relaciona a demanda crescente por minerais, como o lítio, e os mecanismos de investimento em práticas sustentáveis.
O diagnóstico mostra uma tendência de esgotamento das reservas mundiais, ao mesmo tempo em que estratégias de inovação e mitigação de danos ainda não são amplamente adotadas. Para o especialista, é dever do setor ampliar sua atuação na agenda de governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês), assim como se alinhar a mecanismos de financiamento verde.
“O setor privado deve estar centralmente envolvido nas finanças desses novos minerais porque o setor público não tem essa mesma robustez e esses mesmos recursos”, pontuou Ekins.
O Brasil é capital do mundo do capital natural
Na avaliação de Pavan Sukhdev, CEO da Gist Impact, que elabora estudos sobre investimento de impacto, o problema nesse quesito é que ainda não existem recursos para quantificação do chamado capital natural, que abrange, por exemplo, a importância do sistema hídrico e a dinâmica da evapotranspiração da Amazônia para o clima.
“Eu acredito que o Brasil é a capital do mundo do capital natural, isso em termos do Pantanal, da Mata Atlântica, da Amazônia, mas está ficando cada vez mais óbvio que os recursos naturais estão escondidos e o uso desses recursos serão um grande desafio na tomada de decisão política. As comunidades indígenas do Brasil e a forma como as atividades econômicas vão impactar o solo precisam estar nessa discussão. A gente tem que abraçar essa complexidade”, afirmou Sukhdev.
Para Emmanuel Guérin, diretor executivo para políticas globais da European Climate Foundation (ECF), a expectativa é que o debate sobre essas questões seja amadurecido e que a COP 30, em Belém, em 2025, seja propositiva para o estabelecimento de um novo paradigma nesses temas.
“Os países terão que estipular uma nova rodada dos pilares principais do Acordo de Paris e definir um objetivo, não apenas para reduzir as emissões, que é uma forma muito estreita de olhar para a questão, mas para transformar as sociedades e as economias nos próximos dez anos”, reforçou.
Por uma nova discussão
Já para a ex-ministra do Meio Ambiente e membro do Conselho Econômico e social da ONU Izabella Teixeira, é preciso reconhecer que o futuro do planeta passa necessariamente pela Amazônia e que a construção de um novo olhar sobre os recursos naturais e as sociedades da região demanda um imaginário político e ambiental mais complexo.
“A gente precisa de uma nova discussão neste País que detém a maior parte da maior floresta tropical do mundo, com ativos ambientais incríveis, mas cuja visão política é refém de uma inércia. Isso precisa ser provocado”, disse Izabella
A ex-ministra apontou ainda que o caminho para a sustentabilidade deve prever uma estratégia diplomática com o envolvimento de diferentes atores sociais.
“Não estamos falando da discussão da ciência, da informação ou do conhecimento na economia como nós falávamos 30 anos atrás. Estamos falando de uma outra dinâmica para instruir e construir processo de tomadas de decisão pautado na construção de grandes acordos. Eu estou completamente convencida que nós só vamos aprimorar a governança se formos capazes de fazer esses acordos”, reiterou.