Ações humanas, como a extração de madeira e as queimadas, e fenômenos naturais que levam à perda da cobertura vegetal lançam mais CO2 na atmosfera do que o corte raso de árvores, aponta artigo científico publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). A conclusão do estudo chama atenção para a importância de diversos distúrbios no balanço de carbono da região e a necessidade de medidas para conter esses danos. As informações são da Folha de São Paulo.
As florestas têm uma capacidade natural de absorver o CO2 durante o processo de fotossíntese, porém diferentes pesquisas vinham alertando para o fato de a Amazônia ter passado a ser uma emissora de carbono devido ao desmatamento e à degradação florestal. O trabalho do professor Ovidiu Csillik, da Wake Forest University (EUA), e de outros pesquisadores buscou identificar e atribuir o impacto de cada evento desses.
Para isso, em vez de usar imagens de satélite que são capazes de detectar o desmatamento, mas não a degradação, a pesquisa utilizou dados obtidos por escaneamento a laser aéreo da região amazônica. Com esse recurso foi possível fazer uma leitura detalhada da floresta e detectar a causa da morte da cada uma na área conhecida como Arco do Desmatamento.
Os resultados mostram que a degradação causada pelo homem e os distúrbios naturais foram responsáveis por 83% das emissões de carbono na região, enquanto que o desmatamento emitiu os 17% restantes.
À Folha, Ovidiu Csillik disse que ficou surpreso ao ver que as tempestades de vento também estavam causando grandes emissões e danos à floresta, contribuindo para a derrubada de um grande número de árvores.
Queda no desmatamento
O Brasil tem entre suas metas a de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030. Os números vêm caindo desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo em 2023, com queda de 21,8%, de acordo com o sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Apesar do êxito da política de combate ao desmatamento, o estudo aponta a necessidade de medidas para enfrentar também a degradação.
“O governo acha que se reduzirmos o desmatamento também reduziremos a degradação. Isso é cientificamente incorreto, e é isso que esse artigo também está mostrando”, analisa a ecologista tropical Erika Berenguer, que não está envolvida no trabalho publicado.
Um conjunto de 140 países, incluindo o Brasil, assinou um compromisso para acabar com a degradação até o final da década, porém um dos principais desafios é monitorar e policiar as diferentes causas desse problema que se tornaram ainda mais complexas com as mudanças climáticas. Os incêndios, por exemplo, já não ocorrem somente com o desmatamento e podem se alastrar mais facilmente com o clima seco.
“Os incêndios podem escapar de seus limites pretendidos e invadir áreas florestais caso o combustível esteja seco o suficiente para permitir que os incêndios se espalhem, o que está se tornando cada vez mais comum devido às ondas de calor e secas severas causadas pelas mudanças climáticas”, explica Manoela Machado, do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, também não envolvida no estudo citado.
A reportagem informa que acionou o gabinete da Presidência da República e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mas não obteve resposta.