O agronegócio tem um papel importante na geração de riquezas e na balança comercial brasileira, porém o crescimento desse setor responsável pelas exportações de soja e milho tem sido marcado pela abertura de novas áreas com a eliminação da vegetação nativa por meio do desmatamento. A ideia de aumentar a produção devastando a floresta tem o efeito contrário ao esperado e já traz prejuízos para esse segmento.
Um estudo publicado na Royal Meteorological Society revela que o desmatamento altera o clima local e regional, provocando queda na produtividade das plantações de soja e milho. O artigo é assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisaram dados sobre o volume de chuvas, a temperatura e a perda florestal em regiões agrícolas desde o ano de 1999 até 2019.
Os resultados mostram que a estação chuvosa atrasou cerca de 76 dias nas áreas desmatadas. Também foi observado a queda de aproximadamente 360 milímetros no volume de chuvas, além de um aumento de 2,5 °C na temperatura dessas regiões.
A alteração preocupa, pois, a soja, por exemplo, é plantada no início da estação chuvosa e o milho costuma ser plantado na mesma área após a colheita. Quando ocorre um atraso, o duplo cultivo fica prejudicado, a safra é menor e gera prejuízos aos produtores.
Além disso, menor quantidade de chuva afeta o desenvolvimento e a produtividade das plantas. As sementes precisam de um solo úmido, com cerca de 400 a 800 milímetros de água para o primeiro grão e de 400 a 700 milímetros para o segundo, assim como de uma temperatura não tão alta para poderem germinar. De acordo com a pesquisa, o impacto desse efeito em cadeia já teria diminuído a produtividade dos grãos em 12%.
“Os resultados do [atual] trabalho são um apelo veemente para que investidores, formuladores de políticas públicas e cientistas se engajem com empresas agrícolas para eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos”, disse o professor da UFMG, Argemiro Teixeira ao Observatório do Clima.
Ainda segundo a pesquisa, em áreas com até 20% de desmatamento há uma probabilidade de 28% de redução de chuva para 100 milímetros ou menos durante a safra de soja e 37% na safra de milho. Quando a devastação é maior que 80%, as chances de ocorrência de volumes de chuva menores passam para 58% e 63%, respectivamente.
Os dados reforçam o alerta sobre a importância de conter o desmatamento, especialmente na Amazônia, onde a floresta contribui com a formação de 20% a 30% do volume total de chuvas. Vale ressaltar ainda que o fenômeno da evapotranspiração e o transporte da umidade da floresta amazônica pelos chamados rios voadores também ajuda na formação de chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, assim como na Bolívia, na Argentina e no Paraguai.
Outro estudo publicado pela Nature Communications já havia evidenciado que a quantidade anual de chuva diminuiu pela metade ao longo dos últimos 20 anos em regiões importantes para o agronegócio, como é o caso do estado de Rondônia, o norte de Mato Grosso e o sul do Pará.
“A redução do desmatamento poderia, assim, evitar maiores perdas agrícolas no sul da Amazônia brasileira”, reforça o artigo dos pesquisadores da UFMG.