O aumento de temperatura já é uma realidade em diversas partes da Amazônia, mas até a divulgação do artigo recém-publicado na revista científica PNAS, não se sabia ao acerto de quanto era a variação em áreas mais e menos devastadas. O impacto já era esperado, mas os números não deixam de impressionar. De acordo com o estudo, o aquecimento chegou a 4,4ºC nas regiões mais degradadas, o que é 14 vezes maior do que a média das áreas preservadas.
A pesquisa foi conduzida por Edward Butt, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, por Francisco Silva Bezerra, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre outros cientistas, que utilizaram dados de satélite para estimar a variação da temperatura entre os anos de 2001 e 2020.
O objetivo era mensurar o impacto do desmatamento em uma escala regional, definida no estudo como uma faixa que vai de 2 km a 100 km de distância das áreas desmatadas. As evidências mostram que há interação entre fatores locais e regionais que favorecem o aquecimento.
Em localidades com menos de 10% de perda florestal, as temperaturas subiram 0,3°C no período estudado, enquanto que áreas onde o desmatamento foi de 10% a 20%, o aquecimento foi de 0,6ºC.
Segundo o artigo, os números crescem ainda mais à medida que a degradação aumenta. Quando o desmatamento alcança o raio de até 10 km, as temperaturas subiram o triplo. Já quando a perda florestal se propagou por um raio de 100 km, o calor foi 4,4ºC mais forte.
Edward Butt explicou para a Folha a alteração da cobertura vegetal leva à perda da capacidade de evapotranspiração da floresta, o que explica o aquecimento da superfície mesmo. Além disso, ele avalia que os dados reforçam a tese de que os efeitos da devastação podem se disseminar e repercutir em aspectos, como a formação de chuvas e as condições de sobrevivência e desenvolvimento das atividades ligadas à agropecuária.