Por Fabrício Queiroz
Uma imensa floresta com aproximadamente 6.7 milhões de km², o rio com maior volume de água do planeta, uma enorme diversidade de espécies da fauna e da flora e as ricas culturas dos povos indígenas e populações tradicionais são apenas alguns dos atributos lembrados para tratar da Amazônia. Nesta sexta-feira, 22 de março, quando se comemora o Dia Mundial da Água, o Pará Terra Boa lembra que a grandiosidade da região não está apenas na superfície, pois a cerca de 600 metros de profundidade é possível acessar uma importante fonte de recursos hídricos, descrito como o maior sistema aquífero do planeta.
Um aquífero é definido como um corpo geológico subterrâneo capaz de armazenar e ceder água. Na Amazônia, diversos aquíferos já eram conhecidos e inclusive utilizados no abastecimento de populações e cidades da região. No contexto brasileiro, a maior reserva conhecida era o aquífero Guarani, que se estende até os territórios do Uruguai, da Argentina e do Paraguai e abastece, por exemplo, a cidade de São Paulo.
O conhecimento já obtido dos aquíferos permitiu que os pesquisadores Francisco de Assis Matos, Milton Matta, Mário Ribeiro e André Montenegro Duarte, da Universidade Federal do Pará (UFPA), além de Itabaraci Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará, fizeram uma sistematização dos dados e propusessem a existência de um sistema que agrega diferentes aquíferos da região, hoje denominado Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA).
“A denominação incorporava o então bastante conhecido Aquífero Alter do Chão, mas que também incorporava outros sistemas aquíferos menos famosos e que tem ligação física com o Alter do Chão se estendendo para além do seu espaço geográfico e alcançando toda a Amazônia”, explica o professor da UFPA, Francisco Matos.
Segundo as referências, o aquífero Alter do Chão teria reservas 134.182 km³. As novas pesquisas propuseram a denominação do SAGA ao constatar que o Alter do Chão possui ligações com outros depósitos localizados nas bacias hidrográficas do Acre, do Solimões, do Amazonas e do Marajó, se estendendo, portanto, desde os Andes até o estado do Pará.
“O volume de água do SAGA é tão grande que mesmo que se retirasse volumes significativos para abastecer todas as cidades do vale amazônico por alguns anos mesmo sem chover na região, o volume retirado seria quase insignificante diante das reservas estimadas de 162.000 Km³. O Guarani tem reservas de 39.000 Km³”, compara o docente.
De acordo com as estimativas, o volume de água depositado seria de 150 quatrilhões de litros, o suficiente para abastecer todo o planeta por aproximadamente 250 anos. Na atualidade, o uso dessa reserva já ocorre em cidades como Manaus e Parintins (AM) e Santarém, Óbidos e Almeirim, no Pará.
Apesar das intervenções humanas e uso desse recurso já serem uma realidade, Franciso Matos avalia que as águas do SAGA ainda estão protegidas do impacto das ações humanos devido à sua profundidade. Esse fato, no entanto, não deve ser um impeditivo para que o aquífero atraia mais investimentos, pesquisas e estratégias de uso racional e sustentável da água.
“A água está se tornando cada vez mais uma commodity e, nesta perspectiva, o maior depósito de água doce do planeta não passa desapercebido dos olhares internacionais. Nesse momento de Dia Mundial da Água e sobretudo de COP 30, o SAGA merecia um tratamento diferente, pela enorme importância estratégica que ele representa”, afirma Francisco Matos.