Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta segunda-feira, 5, o Pará Terra Boa vai trazer, ao logo da semana, conteúdos sobre ações de manutenção da floresta em pé no nosso estado. Para começar, conversamos com três renomados cientistas brasileiros: Carlos Nobre, pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e Paulo Artaxo, professor e chefe do Departamento de Física Aplicada da USP, que têm dedicado suas carreiras ao estudo do desmatamento e suas consequências na Amazônia brasileira.
Nosso Pará, conhecido por sua rica diversidade de florestas e ecossistemas únicos, está sofrendo uma transformação dramática nas últimas décadas. O desmatamento desenfreado e irresponsável tem causado um impacto devastador no estado, mudando drasticamente a paisagem e eliminando as heranças naturais deixadas pelos nossos avós.
Além disso, a destruição florestal tem contribuído significativamente para as mudanças climáticas. As florestas atuam como sumidouros naturais de carbono, absorvendo a substância da atmosfera e ajudando a mitigar o aquecimento global. Com a perda dessas áreas verdes, o Pará contribui para a intensificação do problema climático, aumentando as temperaturas, alterando os padrões de chuva e agravando eventos climáticos extremos.
“O desmatamento tem uma série de efeitos negativos localmente e no clima da Amazônia e do planeta como um todo. Quer dizer, a Amazônia é uma floresta que tem uma quantidade enorme de carbono a cada quilômetro quadrado, armazenado no tronco das árvores e nas raízes. Então assim que você desmata, emite esse carbono para a atmosfera e agrava-se significativamente o aquecimento global”, explicou Paulo Artaxo.
Segundo os estudos de Luciana, a absorção de carbono pelo lado leste da Amazônia, que engloba um pouco mais a região do centro para o sul do Pará e um pouco menos do centro para o norte, está perdendo a capacidade ou até já virou fonte dele.
“O que o nosso estudo observou é que caminha junto ao desmatamento essa perda de capacidade de absorver carbono e um aumento de mortalidade da floresta. E junto com isso a gente observou que quanto mais desmatado, na estação seca cada vez mais chove menos, está mais quente e a estação está mais longa. O que o estado do Pará tem a ver com isso? O desmatamento. O Pará é o estado que mais desmata todo ano há mais de dez anos”, afirma a pesquisadora.
De acordo com a pesquisadora, é muito importante que o Pará mude o seu modelo econômico, já que o método baseado na criação de gado e produção de soja e milho não é sustentável e está matando a Amazônia.
“Esse modelo está matando o mudando o clima, matando a nossa fábrica de chuva, a nossa grande proteção contra as mudanças climáticas. Existem várias maneiras de desenvolver a economia do estado preservando a floresta. Nós já sabemos que, por exemplo, o cacau é três vezes mais produtivo quando produzido no sistema de agrofloresta. É muito importante parar esse processo dos grandes latifúndios no estado do Pará e grandes áreas de pastagem, transformando um percentual por ano em agroflorestas”, alertou Gatti.
Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, entre as medidas defendidas pelo climatologista Carlos Nobre está a transformação do atual Arco do Desmatamento – região onde a fronteira agrícola avança, de leste e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre – em Arco do Reflorestamento.
Para Nobre e vários pesquisadores como Gatti, se zerarmos o desmatamento e reconstruímos rapidamente a floresta secundária nesta área do sul da Amazônia, conseguiremos fazer a floresta permanecer ali.
“A floresta amazônica intocada tem uma taxa de remoção líquida de 1 a 2 bilhões de toneladas por ano de dióxido de carbono da atmosfera. São 150 bilhões a 200 bilhões de toneladas armazenadas, um serviço ambiental imenso para o resto do planeta”, apontou Nobre,
Outro plano do cientista é a criação de um “MIT da Amazônia” (em alusão ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos Estados Unidos).
“Precisamos criar uma nova bioeconomia para a Amazônia e o AmIT, como estamos chamando, é uma proposta para formar mão de obra para isso na região e criar as tecnologias necessárias para desenvolvê-la de uma forma que valorize a biodiversidade e mantenha a floresta de pé”, disse.
E por falar em bioeconomia, o plano é uma das soluções para reduzir os impactos do desmatamento liderada pelo nosso Pará e tem que ser estruturado em cima da floresta em pé.
“Na hora que você desmata a floresta, você diminui a possibilidade da exploração da biodiversidade que é a base da bioeconomia. Então, se a gente quiser efetivamente implementar um sistema de bioeconomia no futuro, a gente tem que trabalhar pela manutenção da floresta. Somente reduzir o desmatamento não vai bastar. Nós temos também que reduzir a emissão de gases de efeito estufa pela exploração de combustíveis fósseis em geral e temos que mudar todo o nosso sistema de geração de energia”, analisou Paulo Artaxo.
Para o futuro da nossa floresta, é essencial que eventos como a COP 30 aconteçam em Belém, voltando os olhos do mundo para a manutenção da nossa Amazônia.
“O Pará está liderando todos os estados da Amazônia brasileira com seu plano de exploração do enorme potencial da economia da floresta, beneficiando os agricultores familiares, que estão fazendo transições para sistemas agroflorestais e tendo cooperativas avançadas. Então em 2025, se o Pará conseguir praticamente zerar o desmatamento e expandir o seu projeto de bioeconomia isso vai ser marco muito simbólico. A COP em Belém mostrará a potência da sociobiodiversidade do estado do Pará”, finalizou Nobre.