Por Fabrício Queiroz
A transformação do modelo de desenvolvimento da Amazônia considerando as atividades econômicas atuais, a necessidade de promover a conservação da floresta, o fim do desmatamento e o atendimento das demandas sociais foram eixos das discussões promovidas na Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, realizada nesta semana em Belém.
Promovida pelo segundo ano consecutivo na capital paraense, o evento fortalece e qualifica os setores público, privado e organizações sociais para os debates em torno de temas importantes, como as contribuições das empresas para frear as mudanças climáticas, as estratégias para promover o uso sustentável dos recursos naturais e o incentivo à novas vocações econômicas.
No total, mais de 80 representantes de diferentes instituições colocaram em pauta aspectos como os modelos para a restauração florestal. Em um contexto em que a degradação avança no país, soluções para a recuperação dessas áreas são cada vez mais urgentes.
“A restauração ecológica é fundamental para recuperar o que já perdemos na Amazônia e para evitar o tipping point”. disse Rosa Lemos de Sá, secretária-geral do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), que participou de um painel que tratou de medidas para evitar o chamado ponto de não retorno na Amazônia.
No chamado arco do desmatamento, Beto Veríssimo, cofundador do Imazon, avalia que o esforço do poder público, do setor produtivo e da população local criou soluções de impacto para reverter esse dano. Citando o exemplo do município de Paragominas, no nordeste paraense, Veríssimo aponta que se formou um mosaico que combina áreas de floresta, agricultura, pastagens e reflorestamento, criando corredores ecológicos que fixam mais carbono, preservam a natureza ao mesmo tempo que possibilitam a produção de alimentos e a geração de renda.
“Eu acho que esse é o mosaico que vai ser politicamente sustentável porque vai ter condições de integrar os agentes locais, os produtores e as comunidades”, avaliou o pesquisador em outro painel.
Demandas sociais
A conferência também sinalizou para um movimento de abertura ao diálogo entre as mineradoras que atuam na região e os povos e comunidades tradicionais, que participaram em diversos momentos discutindo questões como o licenciamento ambiental, bioeconomia e o uso da tecnologia para proteção dos territórios.
“Por que estamos aqui? Porque a gente quer mudança”, declarou Neidinha Suruí, liderança da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, do estado de Rondônia.
Para a indígena, a proposição de eventos como esse com convites à representação das populações tradicionais da região é um avanço do setor produtivo. No entanto, ela ressalta que mais espaços precisam ser conquistados para que as demandas sociais tenham maior alcance e sejam valorizadas pela sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e o futuro da Amazônia.
“Eu vejo a necessidade da gente discutir as políticas para a mineração e os retrocessos que a gente nas comunidades tradicionais”, disse Neidinha Surui ao tratar dos impactos do garimpo ilegal em terras indígenas e os confitos que essa atividade gera com as populações e com o setor que atua de forma legal. “A gente não quer só falar, a gente quer oferecer soluções também”, frisou.