O paraense quer esquecer aqueles 10 e 11 de agosto de 2019 que poluíram com fumaça o céu de Novo Progresso e fizeram anoitecer até mesmo a distante cidade de São Paulo em plena luz da tarde. Foi o chamado Dia do Fogo, queimada criminosa organizada por produtores rurais e empresários da região. Só que é difícil virar essa triste página da nossa história, que foi parar inclusive nos principais jornais da Europa, porque as queimadas criminosas não dão trégua.
O uso do fogo na agricultura é uma tradição milenar na Amazônia, originada nos tempos pré-colombianos, com os antepassados dos atuais indígenas. Na atualidade, essa prática é questionada por diminuir a fertilidade do solo, embora ainda seja utilizada como opção barata e rápida de limpeza e preparo do solo antes do plantio.
Mas investigações preliminares do Dia do Fogo de 2019 mostraram que a ação não visava limpar o solo para o plantio de forma rápida e barata, como fazem alguns produtores. O que a ação criminosa coordenada pretendia era retirar a vegetação nativa para facilitar o avanço da grilagem e do loteamento ilegal. O incêndio criminoso foi combinado por WhatsApp, segundo a Polícia Civil e Polícia Federal, com vaquinha para compra de combustível e contratação de motoqueiros para espalhar líquido inflamável pela região.
Mas um cenário igual ou pior ao de 29019 está se desenhando neste ano: o desmatamento continua a apresentar taxas elevadas em Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu.
Em Novo Progresso, o desmatamento de abril a junho deste ano aumentou 91% em comparação com o mesmo período de 2020.
Em Altamira, a taxa de desmatamento está muito próxima ao período de 2019, com aumento de 2%, enquanto em São Félix do Xingu houve redução de 7%.
Os números são do sistema Deter, do governo federal, que é um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De abril a junho deste ano, as três cidades desmataram juntas o equivalente a 9.516 campos de futebol por dia, o que representa a retirada de quase 340 mil árvores maduras diariamente em três meses consecutivos, como demonstram os dados do Alertas+.
Naquele 2019, Novo Progresso registrou, em apenas um dia, um salto de 300% dos focos de queimadas.
Já no ano passado, foi registrado o maior índice dos últimos nove anos (150.783 focos de fogo) na Amazônia Legal, um valor 20% maior que no ano anterior e 18% maior que nos últimos cinco anos.