Durante a palestra de abertura da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) Amazônia Sustentável e Inclusiva, que ocorre até a próxima segunda-feira, 05/12, em São Pedro, mais de 80 pesquisadores do Brasil e de outros países latino-americanos refletiram sobre medidas para garantir o futuro da Amazônia.
Entre esses planos está a transformação do atual Arco do Desmatamento – região onde a fronteira agrícola avança, de leste e sul do Pará em direção a oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre – em Arco do Reflorestamento, medida defendida pelo climatologista Carlos Nobre.
Recuperar os cerca de 500 quilômetros quadrados já perdidos custaria dezenas de milhões de dólares, algo que um fundo como o que se propôs na COP27 poderia financiar.
“A floresta amazônica intocada tem uma taxa de remoção líquida de 1 a 2 bilhões de toneladas por ano de dióxido de carbono da atmosfera. São 150 bilhões a 200 bilhões de toneladas armazenadas, um serviço ambiental imenso para o resto do planeta”, apontou Nobre, pesquisador no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e copresidente do Painel Científico para a Amazônia,
Uma das preocupações do evento foi selecionar profissionais de diversas formações, já que enfrentar os desafios para manter a floresta de pé exige um conjunto de habilidades que ultrapassa os limites das disciplinas científicas.
“Acredito que pesquisas na Amazônia devam ser feitas em equipes multidisciplinares, onde haja pessoas com formação em ciências humanas, sociais, biológicas, exatas, porque a solução deve ser voltada para a sociedade, que é composta por todos esses pontos de vista. Não posso pensar só na conservação, mas também no bem-estar e na condição de vida daqueles que moram na região amazônica, que são quase 28 milhões de brasileiros, em torno de 35 milhões se pensarmos na bacia amazônica como um todo”, contou Carlos Joly, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro da coordenação do Programa BIOTA-FAPESP e organizador do evento.
Segundo o arqueólogo Eduardo Góes Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, e também palestrante do evento, parte das soluções pode vir do saber dos povos originários que sabem muito bem como manejar os recursos da floresta sem degradá-la.
“Sempre houve muita gente na Amazônia. Havia milhões de indígenas e o que compõe a paisagem amazônica hoje resulta da modificação exercida pelos povos indígenas ao longo do tempo. Então não dá para separar a proteção da natureza da proteção do modo de vida das populações tradicionais. Não são coisas contraditórias, mas complementares. E qualquer coisa que formos pensar para o futuro da Amazônia tem que contemplar a presença dos povos da floresta, que são os povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas. Aquela ideia de preservação sem as populações tradicionais, além de injusta socialmente, não tem embasamento nos dados que a arqueologia traz”, explicou o pesquisador.
Outro plano de Carlos Nobre é a criação de um “MIT da Amazônia” (em alusão ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts, dos Estados Unidos), sobre o qual o Pará Terra Boa já falou aqui.
“Precisamos criar uma nova bioeconomia para a Amazônia e o AmIT, como estamos chamando, é uma proposta para formar mão de obra para isso na região e criar as tecnologias necessárias para desenvolvê-la de uma forma que valorize a biodiversidade e mantenha a floresta de pé”, disse durante sua apresentação, ocorrida poucos dias após seu retorno da COP27, realizada no Egito.
A programação completa do evento pode ser conferida em: https://spsas-amazonia.biota.org.br/.
Fonte: Agência FAPESP
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