A região nordeste da bacia amazônica já enfrenta diminuição de umidade e, por isso, está mais vulnerável à propagação do fogo. O risco elevado para essa área que abrange o estado do Pará é apontado por um estudo publicado na revista Science of the Total Environment, que demonstra a relação do El Niño com a propensão ao fogo e o comprometimento dos reservatórios de águas subterrâneas.
Com base em imagens de satélite e dados de queimadas coletadas nas ocorrências do El Niño de 2004 a 2016, os pesquisadores observaram que o fenômeno impactou na redução da umidade do solo superficial, da zona das raízes das árvores e das águas subterrâneas. Nesse último caso, os danos da seca foram ainda mais graves, já que esses reservatórios demoram mais para se recuperar.
Uma das bases de dados utilizada na pesquisa foi da missão Gravity Recovery and Climate Experiment, que permite detectar o armazenamento de água terrestre com informações da umidade do solo, água superficial e subterrânea. Com o cruzamento de dados relacionados à gravidade da seca em diferentes partes da região foi possível identificar áreas com menor umidade e com mais focos de incêndio.
Segundo o trabalho, as maiores áreas queimadas coincidiram com regiões que enfrentaram seca durante eventos extremos do El Niño, principalmente entre 2015 e 2016. As localidades descritas estão no nordeste e ao leste do bioma.
“Sabemos que as queimadas na Amazônia têm origem antrópica. No entanto, quando há o registro de um El Niño mais intenso, como ocorreu em 2016, que investigamos, e novamente em 2024, as secas meteorológicas e hidrológicas tornam-se mais severas na floresta. Nessas condições, a vegetação depende intensamente da água subterrânea para sobreviver. As árvores menores, com raízes menos profundas, são as primeiras a sofrer com a falta de água”, disse à Agência Fapesp o professor Bruno Conicelli, do Instituto de Geociências da USP.
O objetivo do grupo de pesquisa agora é desenvolver um índice de risco de incêndio para a região amazônica, contando com indicadores meteorológicos e hidrológicos, que pode ser utilizados para elaborar estratégias para mitigação dos riscos de queimadas e ações de prevenção.
“Estudos como esses são importantes também para a conscientização do quanto a floresta fica vulnerável com eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos”, acrescenta o pesquisador.