De acordo com a bióloga brasileira Erika Berenguer, pesquisadora das universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido, o El Niño pode desencadear uma “hecatombe ambiental” na Amazônia este ano ou no início do próximo.
O fenômeno climático, caracterizado pelo aquecimento incomum do Oceano Pacífico, deve ser especialmente intenso e pode provocar mudanças significativas em todo o mundo, como explica a BBBC News Brasil .
Um dos principais receios, apontam os especialistas, é a seca extrema causada pelo El Niño, o que pode culminar em grandes problemas em meio à devastação da Amazônia nos últimos anos, período em que o bioma enfrentou altos índices de desmatamento e incêndios
“Isso (o desmatamento) só começou a cair principalmente a partir de abril deste ano. Se esse El Niño for realmente forte, o que há grande probabilidade, é uma grande preocupação porque vai aumentar o número de incêndios e destruir ainda mais a floresta, acelerando o processo de degradação”, diz Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
Os especialistas afirmam que o cenário pode ser ainda pior do que o registrado durante o último El Niño, ocorrido no segundo semestre de 2015 e início de 2016, quando na Amazônia ocorreram redução nas chuvas e uma seca intensa em uma floresta normalmente úmida, criando condições favoráveis para a propagação de incêndios causados por humanos.
Berenguer descreve sua experiência na Amazônia durante o El Niño de 2015 como traumática, testemunhando milhares de áreas de floresta em chamas, o que gerou uma sensação de impotência.
Tenho muito medo porque se acontecer algo semelhante agora, após tanto desmatamento, o El Niño pode causar uma verdadeira hecatombe ambiental”, acrescenta a bióloga.
Os pesquisadores destacam algumas medidas-chave para mitigar os impactos do El Niño, como a intensificação da fiscalização do fogo na região, especialmente em áreas consideradas menos úmidas. Além disso, é essencial fornecer alertas à população sobre os riscos de incêndios durante o período de seca.
Erika Berenguer avalia que ainda há tempo para enfrentar o problema e minimizar os impactos do fenômeno climático.
“A gente ainda tem cerca de dois meses para se preparar e lidar com essa crise climática. Não está tudo perdido, mas o relógio está fazendo tic-tac”, afirma a bióloga.