Desde 2016, o município de Canaã dos Carajás experimenta um crescimento econômico sem precedentes, atingindo o PIB de R$ 22 bilhões em 2020, mais do que todo estado de Roraima, segundo informações do Valor Econômico. Com a abundância, o garimpo clandestino de cobre e ouro tem avançado nas proximidades.
O cobre e o ouro clandestinos são vendidos a estrangeiros, que o escoam pelos terminais portuários de Barcarena, onde a Agência Nacional de Mineração (ANM) concentra ações de repressão.
É lá que a Agência Nacional de Mineração (ANM) concentra ações de repressão. A Polícia Federal (PF) também tem realizado operações, e diz que a extração ilegal de minério acarreta “seríssimos danos ambientais, como a contaminação de solos e rios”.
De 2022 para cá, a Polícia Federal (PF) realizou quatro operações na região, sendo uma em Marabá, duas em Canaã do Carajás e uma em Curionópolis. Nesta última, ocorreu o sequestro de R$ 161 milhões e o bloqueio de R$ 200 milhões referentes ao valor de avaliação de uma fazenda. No local, passa a Linha de Transmissão Xingu-Rio, responsável por levar energia ao Sudeste do país.
Os danos ambientais estão estimados em R$ 20 bilhões, valor mensurado a partir da vastidão da área de extração ilegal, desmatamento, escavações, gravíssima contaminação do solo, assoreamento e contaminação do Rio Sereno, um afluente do Rio Tocantins responsável pelo abastecimento de várias cidades e que passa próximo à propriedade, com mercúrio e outras substâncias.
Em agosto, outra ação que trouxe risco de blecaute a regiões inteiras do país foi desmobilizada pela PF em Parauapebas, como publicamos aqui no Pará Terra Boa. Abaixo de uma das torres de transmissão de energia elétrica foi cavado um túnel de extração de cobre, mas a obra foi abandonada pouco tempo antes da chegada dos policiais.
O SAAEP (Serviço Autônomo de Águas e Esgoto de Parauapebas), que realiza análise constante da qualidade da água que abastece a cidade, detectou a contaminação de afluentes do rio Parauapebas e informou ao ICMBio e à Câmara Municipal de Parauapebas por meio de ofício. Descobriu-se que a contaminação vinha, em sua maioria, da atividade de garimpagem no município vizinho, Canaã dos Carajás.
Ao Valor Econômico, o pesquisador da região vinculado à Unifesspa, Daniel Nogueira, diz que há uma aparente “vista grossa” por parte das autoridades e, também da Vale, para evitar o desgaste do enfrentamento.
“A pessoa consegue ter acesso de carro a muitos desses garimpos. São pessoas com poder econômico que conseguem desembolsar R$ 4 milhões ou R$ 5 milhões em equipamentos”, afirma Nogueira.
As operações da Vale em Canaã dos Carajás ocupam uma área de 414 km quadrados. A companhia diz que as lavras ilegais atrapalham a implantação de novos empreendimentos na região e que presta as informações que dispõe à ANM.
Em outros municípios como Itaituba e Jacareacanga, quase toda a produção de ouro é ilegal, de acordo com o WWF-Brasil. Detentores de mais de 35% da área garimpada no Brasil, os índices de ilegalidade na produção de ouro nacional chegam a 90% e 98%, respectivamente.