Uma delegação paraense com representantes dos povos Kayapó, Munduruku, ribeirinhos e assentados viajaram até a University College of London (UCL), no Reino Unido, para participar de um encontro com pesquisadores e expor os danos socioambientais e os riscos futuros da mineração nas bacias de três dos maiores afluentes do rio Amazonas.
Um dos pontos centrais da denúncia é o desrespeito das empresas ao direito de consulta prévia, livre e informada dos povos indígenas e comunidades tradicionais, conforme prevê a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Além disso, as populações locais chamaram atenção para a contaminação por mercúrio e cianeto nas comunidades, os prejuízos sobre a fauna e a flora e os impactos dos empreendimentos em suas formas de organização e modos de vida tradicionais.
“Estávamos todos juntos na luta pela demarcação nos anos 1990. O garimpo colocou pais contra filhos e irmãos contra irmãos. E a Serabi faz a mesma coisa”, lamenta o cacique Bepdjo Mekragnotire, da aldeia Baú, localizada em Altamira, relatando o aliciamento de indígenas para o apoio ao garimpo e a atuação ilegal da mineradora canadense Serabi.
A mina da companhia fica a menos de 10 km do limite da Terra Indígena Baú e a 15 km da aldeia Kamure. Condenada na Justiça por ignorar o direito à consulta prévia, a Serabi fechou acordo com os indígenas para realizar os estudos, mas não demonstrou transparências nos dados, razão pela qual o acordo foi rompido.
Já em Oriximiná, a população de quatro comunidades do Baixo Trombetas também teve suas atividades tradicionais afetadas diretamente pela mineração. Os moradores dizem que foram surpreendidos pela operação da Mineração Rio do Norte (MRN) para retirada de bauxita da Serra do Aramã, onde costumavam caçar e coletar frutas, como o piquiá, o taperebá e a castanha-do-pará.
Somado a isso, os moradores afirmam que as atividades de exploração afastaram animais que viviam na área, como veados, pacas e cotias, além de que a qualidade da água foi alterada ganhando um aspecto mais avermelhado por causa da bauxita.
“Tem gente que foi embora porque não conseguia mais sobreviver aqui. Não tem caça, não tem peixe, não tem fruta. Quem foi embora, foi mesmo para trabalhar lá, na mineração. E deixou a família aqui”, relata a ribeirinha Jesi Ferreira de Castro.
Diante dos riscos que rondam as populações tradicionais da Amazônia, o encontro possibilitou também a troca de experiências sobre integração e resistência desenvolvidas por outras comunidades da Escócia e da Irlanda do Norte também afetadas pela mineração e pela perda de território.
“Uma coisa que os visitantes e as comunidades aqui têm em comum é a convicção de que a organização local e o fortalecimento das relações além-fronteiras são fundamentais para prevenir mais exploração e danos, não apenas onde vivem, mas em escala global”, ressaltou o pesquisador Brian Garvey, da Universidade de Strathclyde, na Escócia.