Um grupo de cerca de 400 pessoas com representantes dos povos indígenas Tupinambá, Munduruku, Arapiun, Kumaruara, Jaraqui, Tapajó, Tapuia, Apiaka, Kayapó, e de comunidades ribeirinhas interrompeu durante seis horas o transporte de cargas pelo Rio Tapajós no último final de semana. A ação fez parte do 7º Grito Ancestral do povo Tupinambá que chamou atenção para os impactos que o projeto de construção da Ferrogrão terá para as populações tradicionais.
Durante o ato pacifico, os manifestantes ocuparam cinco barcos e 15 bajaras, que são embarcações de menor porte, e estenderam um cartaz com a frase “Não deixe a Ferrogrão destruir o Tapajós”. A ação buscou também mobilizar o público para assinar a petição da Aliança contra a Ferrogrão, que já reúne 39 movimentos e organizações da sociedade civil.
“Estão nos impedindo de pescar e matando o Rio Tapajós para exportar soja para a China e para a Europa. Se a Ferrogrão for construída, a situação vai piorar ainda mais”, denuncia Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós Amazônia (CITUPI).
A indígena cita os impactos que são vivenciados pelas comunidades pelo transporte intensivo de grãos pelo Rio Tapajós já utilizado na rota para exportação dos produtos do agronegócio do Centro-Oeste, assim como a BR-163, que liga Cuiabá a Santarém. Com o projeto Ferrogrão, o objetivo é aumentar ainda em até seis vezes o volume de soja e milho escoados pela região.
“A Ferrogrão vai aumentar o desmatamento para produzir mais soja e vai também aumentar a destruição do rio porque querem escavar o seu leito e explodir os pedrais, que são espaços importantíssimos para nós. A ferrovia vai aumentar os impactos do corredor logístico que já nos afeta, e até agora não fomos consultados”, afirma.
De acordo com os organizadores, o protesto foi planejado para este período para ocorrer simultaneamente à COP29, em Baku, quando mais de 190 nações discutem as medidas necessárias para conter o avanço das mudanças climáticas ao mesmo tempo em que já estão de olho na próxima rodada de debates que será realizada em plena Amazônia durante a COP30.
“Nosso país será sede da COP no ano que vem e os olhos do mundo estão voltados para o Pará. Não podemos ceder aos interesses da Cargill e outras grandes empresas, temos que cancelar o projeto da Ferrogrão pelo bem do futuro do planeta”, destaca Pedro Charbel, coordenador de campanhas da Amazon Watch.