Funcionários de uma empresa que presta serviço à concessionária da usina de Belo Monte coletaram, na quinta-feira, 20, dezenas de peixes encontrados mortos perto de uma ponte, que fica às margens do Rio Xingu, em Altamira. Após a construção da hidrelétrica, esse fenômeno tem ocorrido com frequência nesta época do ano devido ao aumento do nível do rio e à degradação do capim. A mortandade tem chamado a atenção de pesquisadores do meio ambiente, segundo o g1.
O represamento da água para a produção de energia nos municípios de Vitória do Xingu, Altamira e Brasil Novo é motivo das principais lutas dos povos tradicionais e originários, que tiravam do Xingu seu sustento e o tinham como símbolo de sua identidade.
De acordo com o Mongabay, esses impactos evoluíram a partir da quebra de uma cadeia natural que se desenvolvia na região. A ictiocoria, dispersão de frutos e sementes por parte de peixes frugívoros, foi o principal processo que se encerrou com a barragem de Belo Monte. Da mesma forma, o peixe que se alimenta de outros peixes também deixou seu território em busca de alimento.
Como já publicamos aqui no Pará Terra Boa, os efeitos negativos sentidos pelas comunidades que vivem na região da hidrelétrica são os mais diversos e o progresso prometido não chegou. No Pará, o 2º maior gerador de energia elétrica no Brasil, com capacidade de produção atual de mais de 22 MW, segundo dados do Anuário Estatístico de Energia Elétrica, a tarifa é a mais cara do país.
Nesse contexto, hidrelétricas construídas na Amazônia, como a de Belo Monte, geram impactos socioambientais como a emissão de gases de efeito estufa na área alagada, destruição da fauna e flora e desalojamento de comunidades que perdem seus territórios e ainda têm que arcar com preços exorbitantes na conta de luz.
“A boniteza daqui acabou. Quando a gente nasce, a gente já sonha em segurar o remo, mas agora não dá mais pra bancar a despesa da pesca. A gente sabe pescar em água doce e correnteza. Com a água parada, só é pau seco e não tem o que o peixe comer. Essas frutas, sarão, caferana, é tudo fruta que eles comem e que não tem mais. Não tem mais condições”, lamentou o pescador Geraldo Costa dos Santos ao Mongabay.
Os pescadores foram retirados da beira do rio e de suas casas para serem remanejados para os chamados Rucs, Reassentamentos Urbanos Coletivos, bairros periféricos sem estrutura social e sem políticas públicas. Acostumados com o rio em frente às suas casas, agora têm de conviver com a falta de água em suas torneiras.
“Quando o ribeirinho ia vender seu peixe na cidade e depois voltava, a casa dele já tinha sido queimada e as redes de pesca estavam enterradas. Esse foi o tratamento da empresa com as famílias ribeirinhas. Ela reconhecia uns pescadores e outros não. A Norte chegou a não dar direitos de reassentamento para até 40 famílias moradoras do rio”, disse Antônia Melo, uma das fundadoras do Movimento Xingu Vivo para Sempre.
O outro lado
A Mongabay entrou em contato com a Norte Energia para esclarecimentos, e a empresa respondeu que “tendo em conta o monitoramento socioambiental do Trecho de Vazão Reduzida realizado nos últimos oito anos, cabe esclarecer que os impactos detectados vêm se mostrando de menor magnitude do que a prevista nos Estudos de Impacto Ambiental”.
A respeito da escassez de peixes, a Norte Energia alega que “o monitoramento realizado com famílias ribeirinhas do Rio Xingu demonstra que o consumo de alimentos de origem proteica é de, em média 35,5 kg per capita/ano, sendo o peixe o alimento proteico mais consumido. Assim, a taxa anual de consumo de pescado está acima da média mundial e nacional (20 kg e 9 kg, respectivamente). Esses dados, portanto, não indicam falta de peixes na região”.
A empresa também respondeu que está “realizando o processo de retorno de 322 famílias ribeirinhas para pontos localizados na Área de Preservação Permanente (APP) do reservatório, com acompanhamento do Ibama e também do Conselho Ribeirinho e seu grupo de apoio. Cerca de 40% dessas famílias já foram reassentadas e 7% estão em andamento”.