Apesar de inalar CO2 ao invés do oxigênio, as árvores agem como os humanos durante o contato com a fumaça de incêndios e “seguram” a respiração. A conclusão curiosa é apresentada em um artigo recente publicado no site The Conversation pelos pesquisadores Delphine Farmer e Mj Richer, da Universidade do Colorado (EUA).
“Como cientistas atmosféricos e químicos, estudamos a qualidade do ar e os efeitos ecológicos da fumaça de incêndios florestais e outros poluentes. Em um estudo que começou por acidente quando a fumaça inundou nosso local de pesquisa no Colorado (EUA), pudemos observar em tempo real como as folhas de pinheiros vivos responderam”, dizem os autores lembrando do experimento realizado ao acaso em 2020 quando uma grande onda de incêndios florestais atingiu a região.
De acordo com as análises, os poros das folhas estavam fechados e os sinais de fotossíntese eram quase zero. Esses poros são os estômatos, que funcionam como nossas bocas com a diferença de que eles inalam o dióxido de carbono e exalam o oxigênio, além de outros produtos químicos presentes ao redor. Durante os incêndios na área de estudo, nenhum desses gases estava sendo inalado ou exalado.
“O que nossos meses de dados nos disseram é que algumas plantas respondem a fortes surtos de fumaça de incêndios florestais interrompendo sua troca com o ar externo. Elas estão efetivamente prendendo a respiração, mas não antes de serem expostas à fumaça”, afirmam os pesquisadores.
Ainda não há clareza sobre qual processo é responsável por essa reação, porém os pesquisadores trabalham com três hipóteses: partículas de fumaça podem ter revestido as folhas e impedido a abertura dos estômatos; a fumaça pode entrar nas folhas e obstruir os poros ou as plantas podem responder fisicamente aos primeiros sinais de incêndio e reagir com o fechamento dos poros.
A pesquisa abre um campo importante para novos estudos, já que é preciso saber ainda quais os efeitos da fumaça sobre as árvores após o fim dos incêndios e como elas lidam com eventos repetidos a longo prazo.
“Com os incêndios florestais aumentando em gravidade e frequência devido às mudanças climáticas, políticas de manejo florestal e comportamento humano, será importante entender melhor este impacto”, reforçam os autores.