Lembram do Dia do Fogo, em Novo Progresso, no fatídico dia 10 de agosto de 2019, quando o município ardeu em chamas por uma ação criminosa, espalhando fumaça tóxica pela Amazônia, chegando até São Paulo, a mais de dois mil quilômetros de distância, e transformou o dia em noite? Essa marca destruidora foi superada no último fim de semana.
De acordo com a geógrafa paraense Ane Alencar, que é diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a segunda-feira, 22/08, foi o dia com maior número de focos de calor (3.358) nos últimos 6 anos em agosto na Amazônia, inclusive maior que o dia catastrófico em Novo Progresso.
Naquele agosto de 2019, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) detectou 1.457 focos de calor no Estado. Já entre domingo e segunda, esse número foi ainda maior: 2.238.
Ontem tivemos o dia com maior número de focos de calor (3.358) nos últimos 6 anos em agosto na Amazônia, inclusive maior do que o dia do fogo em 2019. Que ironia do destino! No mesmo dia que negaram o desmatamento e fogo em rede nacional. (Fonte: BDqueimadas, INPE) pic.twitter.com/AGwa8nZYYQ
— Ane Alencar (@AneAlencar3) August 23, 2022
O coordenador de monitoramento de queimadas do Inpe, Alberto Setzer, disse à agência Amazônia Real, que a nova trajetória da pluma de fumaça vem dos municípios que mais queimam neste momento: os paraenses Altamira, Novo Progresso, Jacareacanga, Itaituba, São Félix do Xingu e Trairão. Também contribuem para o céu de fumaça as queimadas nas cidades amazonenses de Apuí, Novo Aripuanã e Manicoré, no sul do Amazonas, segundo Setzer.
De 1º de agosto até o último domingo, 21/8, o Inpe detectou mais de 16 mil focos de incêndio na Amazônia brasileira, com Pará (7.495) e Amazonas (3.974) liderando a lista dos estados com maior quantidade de focos.
A escritora Eliane Brum, moradora de Altamira, registrou o que viu de sua casa.
O que eu vejo agora, da varanda da minha casa, em Altamira. A floresta queima. Me sinto morrer. pic.twitter.com/VNRWglScpA
— Eliane Brum (@brumelianebrum) August 20, 2022
A fumaça também chegou em Manaus (AM).
Ultimamente o céu de Manaus anda muito, mas muito poluído mesmo por conta das queimadas na floresta
Esse é o amanhecer hoje aqui no Jeferson Peres. Além desse sol feio, tá uma cortina densa de fumaça (não é neblina) em toda a cidade pic.twitter.com/IfX3kim9bH
— evandro fotógrafo (@eivandru) August 22, 2022
Conforme informa a agência Amazônia Real, só em 2022, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou cerca de R$ 35,1 milhões no valor previsto para o Ministério do Meio Ambiente (MMA). A maior parte do valor, 25,8 milhões, eram destinados ao controle de incêndios em terras públicas.
“O fogo, todos os anos, pode ser previsto pelo desmatamento. Todas as áreas desmatadas serão queimadas. Então não é [suficiente] só controle de queimadas e sim controlar o desmatamento. Para isso se necessita de todas as esferas, Federal, Municipal e Estadual. Entretanto, sabemos o alinhamento do desgoverno Bolsonaro com as ilicitudes dos crimes ambientais”, disse o analista e geógrafo da FVA, Heitor Pinheiro, à agência.
Grande parte dos focos de incêndio tem origem criminosa e visa retirar a vegetação nativa para facilitar o avanço da grilagem e, logo, das fronteiras agrárias.
Na segunda, 22/08, o presidente Jair Bolsonaro colocou parte da culpa das queimadas na Amazônia nos ribeirinhos.
“Quando se fala em Amazônia, o que não se fala também é na França que há mais de 30 dias está pegando fogo, a mesma coisa está pegando fogo na Espanha e Portugal, Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil, infelizmente não é diferente, acontece, grande parte disso aí, alguma parte disso aí é criminoso, eu sei disso, outra parte não é criminoso é o ribeirinho que toca fogo ali na sua propriedade”, afirmou ele aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos durante entrevista no Jornal Nacional, comparando o gigantismo da Amazônia a países pequenos, como Portugal e Espanha.
Fontes: Amazônia Real, IPAM e ISA