Nesta terça-feira, 5, quando se celebra o Dia da Amazônia, um alerta importante: “a expansão agrícola na Amazônia é um tiro no pé”. A frase é de uma das maiores estudiosas das relações entre desmatamento e clima, Luciana Gatti.
“De um lado se está tentando aumentar a área agricultável, mas por outro isso está fazendo diminuir a quantidade de chuvas, ou seja, estamos caminhando para um colapso”, acrescenta Gatti ao Pará Terra Boa.
Para a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), esse modelo de desenvolvimento não se mostra capaz de trazer os ganhos socioeconômicos necessários para a região. Pelo contrário.
“A agricultura do jeito que está gera poucos empregos, afeta o ambiente e está trazendo mais calor e mudando completamente o clima. O manejo das populações originárias também está sendo alterado. Os sojeiros chegam com seu poderio e forçam as pessoas a vender suas terras por valores baixos e depois precisam viver nas cidades, onde não tem outras perspectivas. Estão dizimando a Amazônia em prol de projeto, mas a quem serve esse projeto?”, questiona a pesquisadora.
Luciana Gatti tem um histórico de estudos dedicados ao entendimento das mudanças climáticas e do papel da Amazônia na emissão e absorção de gases do efeito estufa.
Uma pesquisa recentemente publicada por um grupo liderado por ela mostrou que as emissões de carbono da região cresceram 122% em 2020 em comparação com o período de 2010 a 2018. Uma das razões para isso seria o desmonte das políticas e dos órgãos ambientais no período recente.
Outro aspecto importante está relacionado à dinâmica da economia da região que vem sendo tomada por pastos e por monoculturas de soja e milho. Nesse contexto, os dados revelam que a Amazônia teve um aumento de 82% do desmatamento em 2019 e de 77% em 2020. Além disso, a área de queimada cresceu 14% e 42% nos dois anos, respectivamente.
A consequência dessas ações é o prolongamento da estação seca, com menor ocorrência de chuvas, o que compromete, por exemplo, o desenvolvimento das lavouras e a alimentação do gado.
“A gente vê que há um plano de usar terras da Amazônia para aumentar a produtividade agrícola, só que essa produtividade depende da condição climática que a floresta oferece”, explica Luciana Gatii.
Segundo a pesquisadora, esse problema já é perceptível principalmente na porção sudeste da Amazônia, que abrange a parte ao norte do Mato Grosso e metade do Pará, onde o regime de chuvas já estaria afetado.
“No lado leste da Amazônia, tem regiões em que as chuvas não chegam a 50mm durante três meses, sendo que essa é uma floresta tropical úmida, Na parte de cima do Pará, os índices de chuva chegam a 40mm em quatro meses. Esse é um problema de estresse climático”, alerta.
Para Luciana Gatti, para conter os danos dessa proposta é preciso apostar em uma estratégia que combine redução do rebanho, pecuária intensiva, isto é, com menos uso da terra, e conversão das áreas de pasto já existentes em favor da agricultura. “Não tem sentido falar em produção de soja, milho e gado para a Amazônia”, resume.
Além disso, ela defende a efetiva implementação de planos de zoneamento ecológico e econômico com base nas potencialidades de cada região e com incentivos a atividades não predatórias, como o ecoturismo, por exemplo.
Por Fabrício Queiroz