A escalada do crime organizado continua no território amazônico. Hoje 260 dos 772 municípios da Amazônia Legal – um terço do total – registram a presença de facções criminosas. É um aumento de 46% ante os números do ano passado, quando um quarto das cidades amazônicas (178) registraram a presença desses criminosos.
Os dados são da terceira edição do Cartografias da Violência na Amazônia, estudo elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em parceria com o Instituto Mãe Crioula e lançado nesta semana. Os pesquisadores chamam de “surpreendente” a velocidade com que a expansão das facções criminosas do Sudeste, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), ocorre na região amazônica, destaca o Estadão.
Ao mesmo tempo em que facções chegam a cidades ermas da floresta, cresce o monopólio do crime nos nove estados da Amazônia Legal. Desde o ano passado, a quantidade desses grupos caiu de 22 para 19, com destaque para o aumento da influência do CV. Em 176 municípios, há uma única facção dominante, e em 84 a população tem visto a disputa entre dois ou mais grupos.
Além da presença maior de facções criminosas, o estudo mostra que os conflitos por territórios e uso do solo vêm alimentando a violência armada na Amazônia, sobretudo na tríplice divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, explica o Estadão. As disputas violentas deram à região a alcunha de “Faroeste Amazônico”, cada vez mais deflagrada na medida em que o poder público não avança com a regularização fundiária.
Embora a Amazônia Legal tenha registrado queda de 6,2% nos homicídios entre 2021 e 2023, a interiorização da violência para zonas rurais e de floresta tornou municípios pequenos e tidos como pacatos em alguns dos mais violentos do país. É o caso de Cumaru do Norte, no Pará. Fundada em 1991 em torno de um garimpo, a cidade é a mais violenta dos 772 municípios da Amazônia Legal. Sua taxa de mortes violentas intencionais foi de 141 mortes a cada cem mil habitantes entre 2021 e 2023. É seis vezes mais do que a brasileira, de 22,8 mortes, explica O Globo.
A guerra entre grupos armados por terra vem causando sofrimento em toda a região, mas a deflagração de disputas violentas no “Faroeste Amazônico” chama a atenção dos especialistas. Os conflitos na área se acirraram desde 2011, com o assassinato de Adelino Ramos, liderança local e assentado do Projeto de Assentamento Florestal Curuquetê.
Desde então, segundo os pesquisadores, as comunidades locais sofrem com a ação de grileiros que desmatam. Depois da devastação ambiental, que tem severos impactos na biodiversidade local, passam a utilizar a terra para a pecuária ou monocultura. “Neste processo, pistoleiros atuam a serviço dos grandes fazendeiros invadindo Terras Públicas da União como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, levando a essa explosão de conflitos fundiários”, diz o estudo.
Apesar da queda no número de assassinatos entre 2021 e 2023 numa taxa maior do que a média brasileira [4,6%], o Valor destaca que ainda é mais perigoso viver na Amazônia Legal do que em qualquer região do país. Em 2023, houve 8.603 mortes violentas intencionais nos nove estados da região, uma taxa de 32,3 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes – 41,5% maior do que a taxa brasileira.