Os eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas devem se tornar mais frequentes e intensos ao longo do século. As alterações afetam o mundo todo, porém diferentes estudos científicos mostram que algumas regiões são mais vulneráveis e uma delas a região da Foz do Amazonas.
Dados sobre a região, que se estende pela costa dos estados do Amapá e Pará, abrangendo uma área de aproximadamente 280 mil km², foram apresentados no seminário “A Foz do Amazonas: pesquisas, conservação e futuro”, promovido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).
A pesquisadora Claudia Funi, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA) lembrou estudo desenvolvido pela NASA que aponta os riscos de inundação em diferentes partes do planeta, ressaltando que as áreas mais criticas no Brasil estão na Foz do Amazonas e no Rio Grande do Sul, onde a população enfrenta uma emergência climática há cerca de três semanas. Diante da vulnerabilidade do norte do país, Claudia Funi ressalta que as consequências também seriam trágicas.
“A perda de habitats que vamos ter é gigantesca porque é uma área extremamente plana, então um pouco que a água subir, ela ocupará extensas planícies”, alertou.
Já as pesquisas realizadas pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) preveem, por exemplo, a ocorrência de chuvas mais intensas e períodos secos prolongados devido ao aquecimento global. O coordenador de Mudanças Climáticas da ANA, Saulo Aires, explicou que os problemas primários das alterações são notados no ciclo da água.
“De um modo geral, a mudança climática causa um fenômeno que chamamos de aceleração do ciclo hidrológico. Com as temperaturas mais quentes, o vapor atmosférico passa a armazenar mais água e isso causa eventos extremos, como chuvas intensas. Por outro lado, essa chuva cai com intensidade muito forte que dificulta a infiltração e acaba também oferecendo um risco maior para as secas”, afirma.
Considerando esse cenário, dois estudos recentes da Agência chamam atenção para os impactos esperados nos próximos anos. Em um dos trabalhos, as modelagens levaram em conta um aquecimento de 2º a 3,5º C até o final do século e indicam um aumento de cerca de 30% nas chuvas intensas. Por outro lado, a tendência é que aumente também o número de dias secos por ano, ultrapassando a marca de 100 dias. Até o ano 2000, a média de dias secos era de 50 na bacia do Rio Amazonas.
“A seca que tivemos ano passado passará a ser mais frequente. Isso vai afetar fortemente a nossa disponibilidade hídrica e ensejará uma série de esforços para a gente se adaptar a essa nova realidade”, frisou Saulo Aires.
Quando se analisa o impacto das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas do Brasil o cenário também não é animador, indicando uma tendência de queda na disponibilidade hídrica de até 40% nos rios da Região Norte, entre eles o rio Tapajós e o Xingu.
“Os resultados apontaram impactos na evapotranspiração potencial nas diferentes regiões hidrográficas do Brasil e na precipitação total. Quando a gente olha para a Amazônia, a gente vê uma tendência muito forte de crescimento da evapotranspiração potencial, principalmente em virtude do aumento da temperatura, e uma tendência de diminuição expressiva na precipitação total anual que leva a uma diminuição na disponibilidade hídrica”, ressaltou o especialista da ANA.
Diante dos riscos que envolvem a conservação da foz, da necessidade de ampliar o conhecimento e o desenvolvimento do ecossistema, os pesquisadores apresentam sugestões que envolvem a criação de um instituto de pesquisas específico para a Foz do Amazonas e a criação de um mosaico de unidades de conservação, aliando tanto áreas de proteção integral quanto de uso sustentável.