A prova de que o desmatamento é um mau negócio fica cada vez mais robusta para o produtor de soja no País. Temos publicado a tendência de cancelamento das empresas que compram o produto de área desmatada já há meses, como você que nos acompanha viu durante a COP26, com destaque para as restrições dos Estados Unidos, China e União Europeia (UE).
A notícia desta terça-feira, 14/12, é que a França, membro da UE, nomeou as gigantes do agro Bunge e Cargill como as principais importadoras de soja de áreas com risco de desmatamento, que é um dos principais motores do aquecimento global, conforme noticiou o jornal britânico “Financial Times”.
Assim como os franceses, os britânicos estão no mesmo caminho. Em outubro, o governo do Reino Unido colocou no ar uma plataforma digital para rastrear suas importações e, no início deste mês de dezembro, lançou uma consulta pública com o objetivo de implementar sanções em sua legislação contra compra de áreas desmatadas. Uma das mais severas é tornar ilegal importação por grandes empresas locais de commodities cuja produção esteja associada a desmatamento, como cacau, carne bovina, soja, café, milho e óleo de palma. A consulta terá duração de 14 semanas.
No caso da ferramenta francesa, as empresas foram identificadas enquanto o governo francês tenta limpar as cadeias de abastecimento da agricultura do país com o lançamento de um banco de dados online que rastreia as exportações de soja do Brasil para a França, informa a publicação.
O banco de dados online, que foi lançado pelo governo francês com a ajuda do grupo de transparência da cadeia de suprimentos Trase e a ONG ambiental Canopee, destaca o papel das maiores empresas agrícolas do mundo no manuseio de commodities potencialmente ligadas ao desmatamento. A lista inclui também a Amaggi, a Cervejaria Petropolis, a Copagro, Comigo e Cooperativa Agrária Agro.
Segundo o banco de dados francês, cerca de um quarto das exportações brasileiras de soja para a França em 2018 veio de áreas atingidas pelo desmatamento.
A ferramenta mostrou que a Bunge respondeu por 70% das cargas de soja de áreas ameaçadas pelo alto risco de desmatamento, enquanto a Cargill respondeu por quase 10%.
A Bunge respondeu que está comprometida em alcançar cadeias de abastecimento livres de desmatamento até 2025 e já havia removido alguns agricultores vinculados a terras desmatadas de sua cadeia de abastecimento.
A Cargill afirmou que os dados da plataforma não refletem as importações francesas, acrescentando que está empenhada em eliminar o desmatamento no menor tempo possível, mas que não há uma solução única para o problema.
O governo francês rebateu que comerciantes e outras empresas foram convidados a compartilhar seus dados para melhorar a qualidade da análise.
Bilateral
Em 2018, cerca de 411 mil toneladas de um total de 1,57 milhão de toneladas de soja, ou produtos dela derivados, exportados do Brasil para a França, foram associadas a alto risco de desmatamento, de acordo com o site francês Mighty Earth.
A França importa cerca de 3 milhões de toneladas de farinha de soja, ou cerca de 17% do total da UE por ano, de acordo com o Ministério da Transição Ecológica do governo. “Acompanhar o fluxo dessas importações que representam risco para as florestas ajudará com o risco da cadeia de abastecimento ”, disse a pasta.
O Brasil é o maior produtor mundial da leguminosa, que é usada principalmente como ração para gado e óleo. Sua produção tem sido uma das causas do desmatamento da floresta tropical ao longo de várias décadas.
A Amazônia e as savanas brasileiras são amortecedores críticos contra as mudanças climáticas, atuando como gigantescos estoques de carbono. No ano até julho, a taxa de desmatamento da Amazônia foi a maior em 15 anos, segundo dados oficiais brasileiros.
Contexto
O lançamento do banco de dados online ocorre logo após um compromisso global de deter a destruição das florestas do mundo na cúpula do clima COP26 em Glasgow.
A UE também publicou um projeto de regulamento que obrigaria as empresas a provar que os produtos que vendiam ao bloco não contribuíam para o desmatamento legal ou ilegal ou para a degradação florestal.
No entanto, os números do site francês não provam que a soja é cultivada em áreas desmatadas, disse o ministério da Ecologia, acrescentando que entraria em contato com os comerciantes sobre o risco de desmatamento em suas cadeias de abastecimento.
O grupo francês de supermercados Carrefour, membro do grupo de trabalho do governo que ajudou a desenvolver a plataforma, disse que usaria os dados para eliminar de suas cadeias de abastecimento a soja ligada ao desmatamento até 2025.
O grupo, junto com outros varejistas franceses importantes, assinou no ano passado um manifesto da soja para combater o desmatamento e a destruição das savanas. Varejistas e empresas de alimentos no Reino Unido o seguiram, assinando um manifesto semelhante em novembro.
Estado do Pará
Segundo dados do governo paraense, o Estado contribuía, em 2019, com 1,56% de toda a soja produzida no Brasil. Os municípios que mais produzem soja no Pará são Paragominas (27,28%), Dom Eliseu (14,79%) e Santana do Araguaia (10,74%), que, juntos, produziram cerca de 1 milhão de toneladas do produto naquele ano.
Nos 21 últimos anos, a soja teve sua produção elevada em mais de 76.000% no Estado, segundo dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) divulgados no dia 7/12. Essa cultura ampliou no Pará uma discussão que vai além de o Estado consolidar-se como grande produtor de soja. Ela compreende também o fato de o Pará ser considerado uma importante plataforma logística, já que os portos paraenses permitem o escoamento de produtos oriundos do centro-sul do País, sendo a soja a commodity agrícola de maior destaque.
Fonte: Financial Times e Governo do Reino Unido
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