O coordenador de um projeto que monitora o desmatamento no Amazonas, o pesquisador Lucas Ferrante, afirma que a fumaça que tem sufocado Manaus vem dos municípios amazonenses de Careiro e Autazes, mais especificamente das regiões próximas à chamada Rodovia Manaus–Porto Velho, a BR-319. E, portanto, não tem origem nas queimadas dos municípios do oeste do Pará, como afirmaram o governador do Amazonas, Wilson Lima, e o secretário de Meio Ambiente do estado, Eduardo Taveira.
A conclusão vem depois de o pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) analisar os dados públicos do Instituto Nacional de Meteorologia e verificar que o estado está experimentando uma calmaria de ventos, proporcionada pelo fenômeno El Niño, que também está por trás da seca histórica que atinge a região.
Em entrevista ao Intercept Brasil, Ferrante afirma que as taxas de desmatamento na Rodovia BR-319 superam em três vezes a média amazônica. Isso porque, segundo ele, há uma migração de pecuaristas vindos de Rondônia para o sul do Amazonas, que negociam terras com grileiros.
“E o que estamos vendo, principalmente nesse momento entre Careiro e Autazes, que concentram os focos de queimada em torno de Manaus, é essa pecuária chegando já ao norte da BR-319, na Amazônia central. Esses focos são os grandes responsáveis pela fumaça que se vê hoje em Manaus”, diz ao site.
Ferrante é autor de uma séries de estudos publicados em revistas científicas internacionais sobre o como os órgãos ambientais do estado evitam atuar no desmatamento na região da BR-319 .
“O histórico do governo Wilson Lima é de conivência com os crimes ambientais, e agora há essa tentativa de transferência de responsabilidade para outros estados”, afirmou.