Financiamento é uma palavra-chave entre os principais debates realizados durante a 16ª Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP16), na Colômbia. Além dos cerca de US$ 200 bilhões previstos no Marco Global de Kunming-Montreal, as negociações envolvem outras frentes. Uma das apostas reúne o Brasil e mais 11 países que buscam apoio para o Fundo “Florestas Tropicais para Sempre” (TFFF, na sigla em inglês), que tem o foco na proteção de regiões florestais, mas pode beneficiar outros biomas.
A ideia foi lançada na COP28, em Dubai, no ano passado, com a proposta inicial de captar US$ 250 bilhões em recursos para os países com as maiores áreas florestais. Agora, a meta caiu pela metade, o equivalente a cerca de R$ 700 bilhões, mas os países envolvidos reforçam o compromisso com a iniciativa que busca ser um mecanismo inovador, pois é baseado em investimento, não em doações
Os investidores terão um valor fixo por hectare de floresta e esse recurso seria empregado em projetos de conservação, recuperação e manejo sustentável que mantenham a floresta em pé. A estimativa dos idealizadores é que cada país beneficiado teria cerca R$ 23 anuais por hectare, porém o ganho seria menor se houvesse aumento do desmatamento ou da degradação.
“É um pagamento pelos serviços ambientais das florestas. Conter o desmatamento precisa de investimentos permanentes”, disse ao O Eco o diretor do diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), Garo Batmanian.
A proposta é bem avaliada por especialistas, já que estudos científicos revelam que a destruição das florestas tropicais acelera a perda de biodiversidade e agrava a crise climática. De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).Carlos Nobre, os modelos climáticos projetam o aumento de 1º na temperatura global em decorrência da perda de vegetação.
“Seguindo a destruição das florestas, a ciência mostra que teremos de uma a duas pandemias por década. Proteger florestas não é só clima e biodiversidade, são vidas humanas também”, reforça o cientista.
A aposta do governo brasileiro é que o TFFF comece a operar antes da COP30 em Belém. Apesar do projeto prever um benefício direto para regiões florestais, deixando de fora biomas como o Cerrado e o Pantanal, o SFB diz que os recursos poderão chegar a essas regiões com ações nacionais do governo, como de combate e prevenção de incêndios e gestão ambiental de terras indígenas.
“É um fundo muito interessante porque ele não está no contexto da negociação de mudanças do clima. Ele é muito mais amplo, baseado na questão de preservação por hectare, não por CO2. E, portanto, é um fundo que busca incorporar também as vantagens da preservação da biodiversidade”, explicou o embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em coletiva na semana passada.