Por Fabrício Queiroz
O garimpo coloca em risco a preservação de diversas regiões da Amazônia. Além de promover o desmatamento e a exploração irregular de recursos naturais, a mineração ilegal ameaça a saúde, a cultura e os modos de vida das populações, principalmente em Terras Indígenas (TIs) que são as mais expostas aos danos dessa atividade.
Dados divulgados nesta quinta-feira, 18, pelo MapBIomas mostram que a área garimpada no País cresceu em 35 mil hectares entre 2021 e 2022, alcançando 263 mil hectares, o equivalente ao tamanho da cidade de Curitiba (PR). Desse total, 241 mil hectares (92%) estão na Amazônia com o agravante de que 77% estão localizadas a cerca de 500 metros de corpos d’água.
“A proximidade do garimpo aos cursos d’água constitui o DNA da atividade de extração garimpeira na Amazônia, especialmente do ouro, que está quase sempre atrelado aos rios e seus depósitos aluvionares. É uma das características de alto risco, ambiental e social, que essa atividade oferece ao bioma”, explica Cesar Diniz, coordenador técnico do mapeamento de mineração no MapBiomas.
Principais áreas visadas estão no Pará
Apesar dos problemas que o garimpo provoca, a atividade vem se expandindo sobretudo em unidades de conservação. De acordo com o levantamento, 10% da área garimpada na Amazônia fica em TIs. São 25,1 mil hectares afetados pela devastação, sendo que duas das principais áreas visadas pelos infratores estão no Pará.
Na TI Kayapó, localizada entre os municípios de Bannach, Cumaru do Norte, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu, foram mais de 13 mil hectares ocupados pelo garimpo, dos quais 9,6 mil estão próximos de algum curso d’água. Já na TI Munduruku, que fica na região de Itaituba e Jacareacanga, a mineração avançou sobre 5,46 mil hectares, sendo que 2,16 mil hectares ficam a menos de meio quilometro de um corpo d’água.
Para César Diniz, as informações devem servir de alerta, já que o desenvolvimento do garimpo tem potencial para disseminar contaminantes entre as populações que vivem na floresta devido ao contato com a água.
“Enquanto o desmatamento fica circunscrito à área garimpada, o assoreamento gerado pela movimentação de terra na proximidade das bordas de rios e igarapés e a contaminação da água pelo mercúrio, e mais recentemente por cianeto, alcançam áreas muito maiores”, ressalta Cesar Diniz,
Pistas de pouso
O mapeamento chama ainda a atenção para o fato de que o garimpo é responsável por outros processos de ocupação que acabam reduzindo a cobertura vegetal na região. Uma evidência disso é a abertura de pistas de pouso, que servem para o escoamento do minério ilegal.
Nas TIs Kayapó e Munduruku foram detectadas 26 e 21 pistas, respectivamente. O território mais afetado nesse quesito é a TI Yanomami, em Roraima, onde há 75 pistas de pouso e uma área garimpada de 3,27 mil hectares.
“As Terras Indígenas são as áreas mais preservadas da Amazônia. Ainda assim, no seu interior, a concentração de garimpos próximo aos cursos d’água é extremamente preocupante, uma vez que populações indígenas e ribeirinhas usam quase que exclusivamente dos rios e lagos para sua subsistência alimentar. A contaminação dos rios e lagos representa para ribeirinhos e indígenas a fome, a sede e graves riscos à saúde destas comunidades – todos muito mais graves nas fases iniciais da vida”, reforça César Diniz.