No Brasil, o número de mortes violentas intencionais caiu 7% em 2021, mas na Região Norte, aumentou 10% em relação a 2020, segundo monitoramento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo site G1, nesta segunda-feira, 21/02. Entre as causas desse dado alarmante para o amazônida estão a dobradinha entre garimpo e facções criminosas, a disputa por territórios entre as organizações criminosas e a descoordenação entre forças de segurança estadual e federal. No Pará, o número de mortes por homicídios se manteve estável, com leve queda: o número passou de 2.349, em 2020, para 2.336, em 2021, segundo o levantamento.
As vítimas são dos seguintes crimes: homicídios dolosos (incluindo os feminicídios), latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte.
O paraense acompanhou a semana de horrores que passou, com direito a manifestação contra o governador Helder Barbalho (MDB) em Itaituba ao lado de garimpeiros, marcada por ameaças do garimpo ilegal sobre a sede do ICMBio em protesto contra a queima de equipamentos usados na garimpagem ilegal, que é garantida por lei.
Toda a violência já usada pelos garimpeiros ilegais agora se soma à violência de um outro grupo, o das facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. O amazônida, assim, está sob fogo cruzado.
Essas facções criminosas expandiram seus negócios ilegais para a Amazônia nos últimos quatro anos, encontrando no garimpo um campo fértil para lavagem de dinheiro com ouro, especialmente em reservas indígenas do País, a dos Ianomâmis, em Roraima; e a dos Mundurukus, em Itaituba, no Pará, uma vez que o sistema de controle desses crimes é fraco.
Em Rondônia, a Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) do sistema prisional estadual tinha, em novembro do ano passado, uma lista de dez foragidos vinculados a uma facção criminosa paulista que teriam se refugiado em garimpos na selva, conforme mostrou o jornal “O Globo”. Uns trabalhavam com a segurança dos garimpeiros e outros com o próprio garimpo em si, além do mercado paralelos de drogas e armas.
No Pará, o prefeito de Itaituba, Valmir Climaco (MDB), é suspeito de estar metido nesse mundo do crime até o pescoço, uma vez que ele é garimpeiro. De acordo com o Ministério Público Federal, o político negociou com um chefe de facção criminosa a compra de um garimpo chamado “Palmares”, que se situa na divisa entre o Pará e o Amazonas. O valor do negócio era de R$ 4 milhões e incluía no pagamento o bimotor usado no tráfico, reportou o jornal “O Globo” em novembro do ano passado.
Climaco esteve com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), na semana passada para que o Governo Federal deixasse de cumprir suas funções legais, como a destruição das máquinas milionárias usadas pelos garimpeiros (sim, não se trata de qualquer pé de chinelo) e apreendidas pela Polícia Federal. Ao seu lado estava o deputado federal José Priante (MDB-PA), dizendo que estava em Brasília “tratando e levando o clamor da região toda em relação aos últimos acontecimentos que tem estarrecido a todos que vivem nessa região garimpeira”. Em nenhum momento, o parlamentar eleito por paraenses falou da violência que esse setor tem levado ao nosso Estado, a ponto de agora o Brasil registrar redução na curva de homicídios e toda a Região Norte, aumento.
O Amazonas foi o Estado com a maior alta da região e do País: 54% a mais de mortes foram registradas em 2021 que em 2020 no Estado – o número passou de 1.019 para 1.571, conta o G1.
Os especialistas apontam os seguintes fatores para o aumento da violência:
- Associação do narcotráfico com crimes ambientais, como grilagem, garimpo ilegal e desmatamento
- Falta de integração das autoridades estaduais e federais no combate aos crimes na Amazônia Legal
- Disputa de territórios entre facções criminosas
“Ao contrário do resto do Estados, onde essa curva de homicídios vem diminuindo, mostrando uma maior estabilidade nessas cenas criminais, no Norte, os Estados da Amazônia Legal vivem um desequilíbrio em decorrência da fragilização das instituições de fiscalização e de polícia para controlar os comportamentos criminosos na invasão de terra indígena, de grilagem, de madeira e mesmo da droga”, diz Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP).
Esse aumento no número de mortes violentas no Norte pode ter relação, ainda, com o aumento no número de armas circulando pelo País. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública publicado no ano passado, o Brasil dobrou o número de armas nas mãos de civis em apenas três anos.
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