O estado do Pará abriga algumas das áreas mais afetadas com o avanço do garimpo ilegal no País. Um estudo publicado na revista Nature aponta que a mineração ilegal no Brasil tem avançado em ritmo acelerado nos últimos anos e já supera a mineração industrial em termos de área degradada, com um crescimento muito mais expressivo. Entre 2019 e 2022, o garimpo ilegal aumentou 1.200%, enquanto a mineração legal cresceu cinco vezes no mesmo período.
A pesquisa, baseada na análise de imagens de satélite da NASA, revela que 91% dessa atividade está concentrada na Amazônia, com forte impacto ambiental, social e econômico, e que, em áreas de exploração com menos de cinco anos de atividade, 62% estão dentro de terras indígenas, onde a mineração é proibida por lei. Os povos indígenas Kayapó e Munduruku são os que mais sofrem com os impactos da invasão dessa prática ilegal.
Impactos agropecuários
Para o setor agropecuário, tudo isso representa um grande desafio. A degradação ambiental afeta a disponibilidade de recursos hídricos, prejudicando a irrigação das lavouras e o abastecimento de água para animais. Além disso, o avanço da mineração sobre terras férteis pode impactar a produção de alimentos e comprometer a segurança alimentar da região.
Outro problema é o aumento da sedimentação dos rios, que afeta a pesca e pode influenciar a qualidade do solo em áreas próximas, tornando-as menos produtivas para a agricultura. O assoreamento dos rios e a contaminação da água por mercúrio também podem afetar a fertilidade do solo, reduzindo a capacidade de produção em longo prazo e aumentando os custos para o produtor, que precisará de mais insumos para manter a produtividade.
Os produtores agropecuários, que dependem da água dos rios para suas atividades, são diretamente prejudicados pela contaminação e pelo assoreamento causados pelo garimpo.
Problemas de saúde
A pesquisa também destaca que o garimpo, especialmente o de ouro, causa sérios danos ambientais e à saúde humana, devido ao uso de mercúrio no processo de extração. Na Amazônia, essa atividade contribui para o desmatamento, degradação florestal e contaminação da água, impactando a pesca e a caça.
Além disso, municípios próximos às áreas de mineração registram altos índices de desmatamento, contaminação dos rios e fauna por mercúrio e aumento de sedimentos nos cursos d’água, comprometendo a biodiversidade e a qualidade da água.
Resultado esperado
Luiz Ferreira Neto, coautor da publicação, explica que a pesquisa veio a confirmar o que estudos prévios já indicavam, ou seja, que a atividade garimpeira ilegal vinha historicamente ultrapassando a mineração industrial, principalmente na Amazônia.
Para se ter uma ideia do avanço do garimpo ilegal no Brasil, em 1985, a mineração industrial ocupava aproximadamente 360 quilômetros quadrados, enquanto o garimpo abrangia 218 quilômetros quadrados. Já em 2022, a mineração legal expandiu para 1.800 quilômetros quadrados, mas a área explorada pelo garimpo cresceu ainda mais, alcançando 2.627 quilômetros quadrados.