O Pará dá um importante passo para ser o primeiro estado a disponibilizar de modo transparente os principais critérios socioambientais da produção agropecuária em seu território. Graças a uma parceira entre o Centro de Inteligência Territorial (CIT) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o governo paraense lança o Selo Verde-Pará 2.1, uma plataforma que mapeia as cadeias produtivas da soja e da carne bovina no Pará.
Para traçar um diagnóstico da produção das 280 mil fazendas do Estado, a ferramenta integra dados de instituições federais e estaduais (Inpe, Ibama, Semas, Iterpa, Adepará, entre outras), mapas de imagens de satélites e análises geoespaciais.
“A rastreabilidade é determinante para que nós possamos garantir que o produto de boa origem possa ser competitivo, possa ser reconhecido. E por isso nós criamos o SeloVerde como ferramenta de rastreabilidade da proteína animal e desejamos ampliar o processo de rastreabilidade para outros produtos que estejam vinculados ao uso do solo. Para garantir com que aqueles que estão legalmente estabelecidos possam ter o seu produto certificado e a população que consome, possa saber que está consumindo um produto que respeita o meio ambiente e está sustentável em sua produção”, explicou Helder Barbalho, no lançamento da plataforma na quinta, 4.
A informação dos mais de 230 mil imóveis inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) do estado, segundo a Agência Pará, é disponibilizada de forma ampla e gratuita em relatórios detalhados.
Além de fornecer dados sobre ativos e passivos ambientais de cada propriedade, a plataforma rastreia os fornecedores diretos e indiretos de bovinos e a ocorrência de desmatamento, quer seja nas fases de cria, recria, engorda e abate.
Felipe Nunes, diretor-presidente do CIT, disse ao Valor que o Selo Verde Pará 2.1 é provavelmente o primeiro sistema governamental a resolver uma das principais questões em relação à rastreabilidade nas cadeias de carne: monitorar fornecedores indiretos, ou seja, produtores que vendem gado para outras fazendas.
Isso porque o algoritmo tem acesso às Guias de Trânsito Animal (GTAs) que acompanham a movimentação do gado. Devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o sistema preserva as informações consideradas pessoais e sigilosas dos produtores.
“O pulo do gato é que a plataforma faz toda essa análise e apresenta só o diagnóstico”, afirma Nunes.
Com base nos dados obtidos no projeto, Nunes estima que 20% das fazendas paraenses possuam algum tipo de irregularidade ambiental.
“É uma minoria que prejudica a imagem do todo, mas a plataforma já apresenta caminhos para que eles possam se regularizar com os mecanismos já existentes”, salienta o diretor do CIT. “São produtores que muitas vezes não têm nem um diagnóstico da própria situação”.
A boa notícia é que outros Estados da Amazônia Legal já demonstraram interesse em replicar o projeto, inclusive em outras culturas.
“Acreditamos que esse sistema pode ser usado em qualquer Estado do Brasil”, afirma Nunes.
O Selo Verde Pará 2.1 conta com apoio da Amazon Web Services.