O Rio Xingu, um dos principais afluentes do Amazonas, enfrenta uma das secas mais severas da sua história. Em 15 de outubro de 2024, o nível do rio atingiu seu menor patamar histórico para a época, com apenas 237 centímetros, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Esse número representa uma queda drástica em relação aos 475 centímetros considerados normais para o período, e supera a marca anterior de 254 cm, registrada em 30 de novembro de 2023. as informações são do g1.
Imagens de satélite de um trecho do rio Xingu (abaixo), próximo à Usina de Belo Monte, mostram os reflexos da estiagem prolongada na região. A Prefeitura de Altamira, por onde passa o Rio Xingu, decretou situação de emergência em função da grave seca.
As consequências da seca são trágicas. Os primeiros a serem afetados diretamente são as comunidades ribeirinhas e indígenas, que dependem do rio para sua subsistência. A navegação no rio dificultada impacta o transporte de pessoas e mercadorias e compromete a economia regional. A agricultura também sofre com a falta de água para irrigação, afetando a produção de alimentos e a renda dos agricultores.
A redução drástica no volume de água do Xingu obrigou a usina hidrelétrica de Belo Monte a operar com apenas 2 das 18 turbinas no início de setembro. A Norte Energia, concessionária da usina, ainda não se manifestou sobre a manutenção desse protocolo de funcionamento, deixando a população em alerta quanto aos impactos dessa decisão na vida das comunidades ribeirinhas e na geração de energia.
Para José Edmilson, pescador de Altamira, a seca atual é inédita. Ele afirma que nunca antes havia visto o rio Xingu em uma situação tão crítica. A falta de água compromete a pesca, atividade essencial para a subsistência de muitas famílias, e ameaça a biodiversidade local.
“Se for viver só da pesca, passa fome aqui. Minha família passa fome, porque não tem jeito da gente viver nessa seca. E antes da barragem não tinha isso. Está tudo seco. Como é que a gente vai andar? O sofrimento da gente tá grande,” disse Edmilson
Causas conhecidas
As causas da seca são multifatoriais. A construção da Usina de Belo Monte, que alterou o regime hidrológico do rio, é um dos fatores que contribuíram para a intensificação da crise. As mudanças climáticas globais, com o aumento da temperatura e a alteração dos padrões de chuva, também desempenham um papel crucial.
Segundo Carlos Bordalo, professor da Universidade Federal do Pará e líder do Grupo de Pesquisa Geografia das Águas da Amazônia, há ainda o fator humano, que deixa a situação ainda maiso grave.
“Esse cenário é agravado por problemas decorrentes da ação de assoreamento dos rios, da ocupação das planícies de inundação, do aumento do consumo das águas e do desmatamento provocado pela atividade madeireira, agropecuária e garimpeira”, diz o pesquisador
A seca no Xingu é um alerta para a necessidade de uma mudança de paradigma na relação entre o homem e a natureza. É preciso repensar as nossas práticas e adotar medidas que promovam a conservação dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas. A crise hídrica no Xingu é um desafio, mas também uma oportunidade para construir um futuro mais sustentável para a Amazônia e para o planeta.