Dados de operações realizadas pela Polícia Federal (PF) nos últimos cinco anos revelam as fortes relações existentes entre traficantes, garimpeiros e supostos empresários que atuam na região amazônica. Uma reportagem da Repórter Brasil mostra que atividades como a compra e venda de fazendas e gado estariam sendo utilizadas para lavar o dinheiro dos chamados “narcogarimpos”.
A investigação se debruçou sobre cerca de 17 mil páginas de documentos. Os processos apuram a movimentação de R$ 27 bilhões em negócios suspeitos e já resultaram na prisão de 225 pessoas e apreensão de 236 aeronaves. Um dos alvos foi Heverton Soares Oliveira, conhecido como “Grota”, que seria líder de um esquema que envolve transporte de ouro e cocaína e operação de pistas clandestinas na região. A PF suspeita que Grota já movimentou mais de R$ 1 bilhão.
Ele se apresenta como pecuarista e investidor de ouro com atuação no município de Itaituba, no sudoeste paraense, mas, para a PF, o patrimônio de Grota tem origem no narcogarimpo. Um de seus bens, por exemplo, é um avião Cessna que apareceu em três operações relacionadas à lavagem de dinheiro e transporte de ouro, cocaína e armas.
Outra suspeita envolve Silvio Berri, apontado como sócio de Grota. Berri trabalhou como piloto para Fernandinho Beira-Mar e tem histórico de prisões no Paraguai e no Paraná. A dupla seria responsável por operar rotas aéreas e pistas de pouso na Amazônia que servem a diferentes grupos criminosos.
Para o Roberto Magno, do Laboratório de Geografia da Violência e do Crime da Universidade do Estado do Pará, as vias marítimas e aéreas da região são amplamente utilizadas na prática de ilícitos.
“É um aproveitamento das rotas”, afirmou o pesquisador ao Repórter Brasil.
Grota e seu grupo foram alvos da operação Narcos Gold, deflagrada em 2021. Na época, também foram presos alguns de seus comparsas. Entre eles, o irmão dele, Diego Oliveira, que seria o laranja dos negócios, e a advogada Helenice Carvalho, que é suspeita de ajud=a-lo a fugir e tentar dar origem legal aos ganhos do cliente. Entre 2020 e 2022, cerca de 2 mil cabeças de gado passaram em somente uma fazenda de Grota. Para a Polícia, essa movimentação faz parte do esquema de lavagem do dinheiro do tráfico.
Sofisticada organização crimninosa
As provas levantadas pela PF serviram de base para a denúncia feita pelo Ministério Público do Pará (MPPA) contra Grota pelos crimes de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, associação ao crime e corrupção de servidor público. O caso tramitava na vara de Santarém, mas foi remetido para Belém após dois juízes terem sido declarados suspeitos.
“Há indícios de que uma sofisticada organização criminosa se estabeleceu no oeste do Estado do Pará, com o propósito de transportar grandes quantidades de entorpecentes, em aeronaves próprias, pistas de pouso em fazendas e garimpos que também serviam para lavagem de capitais, (…) liderados por Grota”, diz um trecho da decisão.
Porém, neste mês o MPPA requereu a suspensão do processo e o caso foi parar no Supremo Tribunal de Justiça, que deve definir a vara responsável pelo julgamento.
A defesa de Grota e seu irmão disse que “está convicta de que restará provado ao final a indiscutível inocência dos acusados”. Por sua vez, Berri não respondeu à reportagem.