Por Gisele Coutinho
Dois cursos d’água nas proximidades da agrovila Itaqui, território rural do município de Castanhal, no nordeste do Pará, estão em processo severo de degradação por causa da presença de barragens e construções irregulares, do desmatamento, da drenagem mal feita no ramal de acesso à comunidade e do descarte irregular de lixo. É nessa agrovila que vive Pedro Alace, de 21 anos, que ao lado de outros jovens toca o Coletivo Miri.
Ao Pará Terra Boa, Pedro contou como eles arregaçaram as mangas para resolver questões socioambientais na comunidade que vivem e conquistaram vaga para um programa de aceleração de coletivos e organizações sem fins lucrativos do Pará, realizado pela agência Purpose.
Ele não tem dúvidas sobre a missão que carrega com sua geração e gerações mais novas de resgate ambiental e cultural dentro da comunidade que vive. Para atuar cada vez mais localmente e cobrar autoridades políticas sobre a responsabilidade do Estado, ele entrou para o a faculdade de Agronomia no Instituto Federal do Pará, no campus Castanhal.
A realidade vem tomando outros rumos contra a degradação e vem dando esperança aos paraenses da agrovila Itaqui.
“Na comunidade, era comum o descarte irregular de lixo, que acaba parando nos rios e igarapés, por causa da ausência de programas de coleta seletiva. Nossa comunidade também não teve contato com qualquer processo de conscientização sobre o lixo, liderado pelo poder público. Por isso, o descarte intensificava a degradação dos rios”, detalha. “Parece uma ação simples, mas não é. É preciso mobilizar, educar, reunir”.
O programa que apoiou o Coletivo Miri por meio da agência é o IARA – Inovação e Aceleração na Região Amazônica, uma plataforma criada para fortalecer coletivos e organizações ativistas para que projetos como o Miri sejam tirados do papel e realmente praticados em comunidades. E por ali, a mobilização chegou!
Os jovens conseguiram engajar a igreja, o ginásio de esportes, os postos de saúde e as escolas nas ações da campanha. Redes de juventude foram constituídas, com a formação de cinco jovens multiplicadores de coleta seletiva na comunidade. Por meio de articulações com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Castanhal, conseguiram a instalação de três lixeiras seletivas na comunidade. Outras sete estão em vias de instalação. Agora, a partir dos aprendizados da campanha e das redes articuladas, eles estão desenvolvendo uma nova campanha para tratar do reflorestamento das nascentes.
Resgate da agricultura familiar
A degradação ambiental foi um dos motivos, mas não o único, que estimulou o trabalho do Coletivo Miri. Pedro conta que a desvalorização do trabalho de agricultores familiares também está no alvo da organização dos jovens:
“Grande parte da nossa alimentação não é considerada saudável e planejamos projetos futuros para ligar agroecologia com segurança alimentar na comunidade”.
Para ele, esse processo representa um resgate de seus ancestrais.
“A maioria da população aqui não vive da agricultura. Grande parte trabalha no comércio e na indústria. Temos que fazer esse resgate da agricultura familiar com um processo de circuito curto de comercialização de alimentos para barrar esse caminho inverso”.
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