O aquecimento das águas da Amazônia representa uma nova ameaça à fauna local. Um estudo da plataforma Lagos da Amazônia revelou um aumento significativo da temperatura em 23 lagos amazônicos, semelhantes aos que testemunharam a morte de 330 botos em 2023.
Em 12 desses lagos, a temperatura já supera a do ano passado, acendendo o alerta para um possível novo evento de mortalidade em massa.
“Há um mês, o monitoramento diário dos lagos tem evidenciando que os animais já estão sob um estresse, porque estão confinados em um lago que está perdendo superfície de água muito rápido. A temperatura começou a ter uma amplitude térmica muito grande na coluna da água e não só na superfície”, explica Mariana Paschoalini Frias, analista de conservação do WWF-Brasil, à Agência Brasil.
A parir da plataforma, desenvolvida pelo WWF-Brasil e MapBiomas. alterações similares puderam ser observadas em outros 22 lagos com a mesma hidrogeomorfologia, ou seja, em corpos de água que apresentam características físicas similares.
“São lagos que a gente chama de lagos de ria. São mais compridos, normalmente vêm de um tributário, um rio pequeno afluente do Solimões ou de outros grandes rios, que saem de dentro da floresta e desembocam primeiro em um lago mais comprido e lá na frente, quando vai desembocar no Rio Solimões, ele tem um pequeno canal. E é nesse pequeno canal que se fazem essa conexão e esse ciclo de nutrientes, de água e de temperatura”, diz Mariana.
Tais características também deixam os corpos de água vulneráveis às secas que têm se tornado mais extremas de forma sistemática, explica a pesquisadora. Somadas à presença das espécies impactadas anteriormente, levaram a inclusão na plataforma de mais oito lagos no Rio Trombetas, cinco do Rio Solimões (também chamado Amazonas), cinco no Rio Purus, dois no Rio Madeira, dois no Rio Paru e no Rio Negro e mais um no Rio Tapajós, além dois Lagos Tefé e Coari.
O superaquecimento dos lagos amazônicos é resultado da combinação de vários fatores, como a redução da quantidade de água, excesso de radiação solar e água excessivamente turva, que facilita a difusão de calor no lago, segundo o pesquisador Ayan Fleischmann, coordenador do Grupo de Geociências do Instituto Mamirauá,