O município de São Félix do Xingu, no sudeste paraense, fechou o ano de 2024 como o campeão em focos de queimadas em todo o país, com de 7.356 registros. Porém, além do impacto do fogo na degradação, um levantamento do InfoAmazônia mostra que esses focos ocorrem em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) dentro de unidades de conservação, o que torna esses registros falsos.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais no Brasil. Ele tem como objetivo integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, formando uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico, e combate ao desmatamento
De acordo com a reportagem, do total de queimadas no município, 5.610 ocorreram em áreas com CAR. Dentre eles, 3.472 (62%) estavam dentro de unidades de conservação, o que representa uma violação ambiental e que coloca em risco esses locais.
A APA mais desmatada
Uma dessa unidades é a Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, que concentrou 3.334 focos de calor somente na porção territorial dentro de São Félix do Xingu. O Parque Nacional Serra do Pardo e a Estação Ecológica Terra do Meio também foram unidades de conservação com registros significativos de queimadas.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a APA Triunfo do Xingu é a unidade de conservação mais desmatada no País desde 2008, com perda de 437 mil hectares, o equivalente a quatro vezes o tamanho de Belém.
Em nota, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS) informou que está implementando um plano de para restauração de 10,3 mil hectares da APA e que a área também conta com uma base fixa da Operação Curupira. De 2023 para 2024, o desmatamento na região caiu 28,4%.

Avanço da pecuária
A diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Ane Alencar, diz que os altos índices de degradação em São Félix do Xingu têm relação direta com o avanço da pecuária no município, que concentra também o maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 2,4 milhões de animais.
“Principalmente na Amazônia, onde boa parte da área desmatada é ocupada por pasto destinado à pecuária. Infelizmente, essa pecuária é mais extensiva e usa o fogo como sua forma de manejo, onde se faz a queima para o plantio do pasto. Essa é uma prática mais específica da Amazônia do que em outros biomas do País, onde se usa o pasto nativo”, explica Ane.
Além das pastagens, o garimpo ilegal de ouro também é responsável pelo aumento das queimadas na região. É o que se nota na Terra Indígena Kayapó, que foi o território indígena com mais focos de calor no ano passado. No total, foram 3.259 registros, número 23 vezes maior que os 139 observados no ano anterior e impulsionado pela crescente exploração ilegal de ouro.
“Esse ano foi atípico. Ocorreram diversas operações de combate ao garimpo ali dentro. E a gente observou que muitos desses focos estão próximos a eles. Então a gente acredita que [os incêndios] sejam uma resposta às operações de combate”, disse Rogério Borges, assistente técnico da Coordenação Regional Kayapó Sul da Funai ao InfoAmazônia.
A Funai, a Polícia Federal e o Ibama realizam operações pontuais para combater os garimpos na TI, mas a expectativa é que novas operações sejam organizadas para expulsar os invasores no território.