De 1985 a 2023, 59 milhões de hectares da região amazônica foram convertidos em pastagens, o que corresponde a mais de 90% de toda a área desmatada nesse período. Como resultado dessa expansão, hoje 14% de toda a extensão do bioma – que chega a 421 milhões de hectares – é caracterizada como pasto;
Esse é o principal alerta do novo estudo do MapBiomas sobre a cobertura e uso da terra na Amazônia divulgado nesta quinta-feira, 3. O trabalho reforça as evidências de que a devastação da floresta é impulsionada principalmente pelo avanço da pecuária extensiva, inclusive sobre áreas úmidas. Em 39 anos, 3,7 milhões de hectares foram transformados pela ação humana, sendo que 3,1 milhões de hectares se tornaram pastagens.
No Pará, a dinâmica de uso e ocupação da terra segue a mesma tendência geral. No período analisado, a área com cobertura de vegetação nativa recuou para 77%, enquanto que as pastagens ocupam 18% do total do território.
As mudanças para dar lugar a atividades econômicas, no entanto, foram maiores nos estados do Tocantins, Maranhão e Rondônia, onde a pecuária ocupa porções que variam de 39% a 74%. Esses são também os estados com menor proporção de vegetação nativa na Amazônia: Tocantins, com 21%; Maranhão, com 46%; e Rondônia, com 59%.
Além da pecuária, a agricultura também teve um aumento significativo de presença no bioma. Em 39 anos, a área agrícola cresceu 4.647% passou de 154 mil hectares para 7,3 milhões de hectares. Desse total, 97% é dedicado à lavouras temporárias, com predomínio da soja, que chega a ocupar 80,5¨% das áreas agricultáveis.
Para Jailson Soares, pesquisador do Imazon e da equipe Amazônia do MapBiomas, o estudo aponta para os impactos duradouros que o desmatamento tem na configuração da região e como a continuidade desse processo acelera a perda de qualidade da floresta e reduz sua resiliência aos fenômenos da emergência climática.
“A quantidade de vegetação nativa removida nos últimos 39 anos é alarmante e a continuidade dessa perda pode levar a região ao chamado ‘ponto de não retorno’, ou tipping point.. Nesse estágio, o bioma amazônico perderia sua capacidade de manter funções ecológicas essenciais e de se recuperar de distúrbios como queimadas e exploração madeireira, resultando em uma degradação irreversível da floresta”, alerta o pesquisador.
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