No oeste paraense, a população da Reserva Extrativista (Resex) Verde Para Sempre, a maior unidade de conservação de uso sustentável do País, dá exemplo de como explorar de forma sustentável os recursos naturais. Na área de aproximadamente 1,2 milhão de hectares localizada no município de Porto de Moz, cerca de 100 comunidades são beneficiadas por um projeto que promove o manejo florestal comunitário e familiar que garante renda e proteção do meio ambiente.
As ações são promovidas pelo projeto Bom Manejo, que é responsável pelo desenvolvimento de ferramentas de apoio e monitoramento e pela disseminação de boas práticas para execução do manejo florestal. A iniciativa é da Embrapa com apoio financeiro da Agência Brasileira de Cooperação (Ministério das Relações Exteriores), Fundação Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Fidesa), Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO) e do governo japonês.
Por meio do manejo florestal, as populações da Resex podem realizar a extração de espécies de madeira, por exemplo, de forma racional e que não comprometa nem a sobrevivência da floresta nem o futuro da atividade.
“O manejo florestal veio para organizar a nossa atividade, esse nosso planejamento dentro da floresta de uma forma estratégica considerando a nossa economia, o nosso bem-viver e também o meio que a gente vive”, afirma Margarida Ribeiro, moradora da comunidade Arimum e uma das beneficiadas pelas estratégias do Bom Manejo.
Duas fases
Ao longo de 16 anos de execução, o projeto teve duas fases, sendo a primeira dedicada ao desenvolvimento de quatro softwares que atendem a diferentes necessidades dos extrativistas, como o planejamento da exploração madeireira, acompanhamento da dinâmica da floresta e a gestão financeira; e a segunda para aperfeiçoamento das ferramentas e capacitação das comunidades, profissionais e empresas que atuam na região.
“As ferramentas que foram desenvolvidas no Bom Manejo são completas. Elas dão condições de elaborar um plano de forma mais qualificada, de monitorar a floresta, além do social e do financeiro”, destaca Edilene Duarte, moradora da comunidade São Sebastião do Jussara.
Para o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental e coordenador do projeto, Milton Kanashiro, a experiência serve ainda para chamar atenção para a necessidade da articulação entre diferentes instituições para promover uma estratégia de manejo florestal que atenda aos anseios das comunidades.
“A participação do projeto na construção do Observatório do Manejo Florestal Comunitário e o envolvimento no Fórum Florestal da Amazônia, que reúne empresas e comunidades, trazem um legado muito importante para o momento no qual vivemos”, pontua Milton Kanashiro.
Referência nacional
Em março passado, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) criou um grupo de trabalho para elaborar o Programa Federal de Manejo Florestal Comunitário e Familiar, que deve dar um impulso às atividades sustentáveis em reservas extrativistas do País, tendo inclusive como referência os resultados obtidos em Porto de Moz.
“O Bom Manejo é o futuro que todos nós queremos para a Amazônia. É fazer com que os povos da Amazônia sejam levados em conta. E, mais do que ser levados em conta. sejam elementos centrais das políticas públicas para o desenvolvimento da Amazônia”, ressalta o embaixador Ruy Pereira, da Agência Brasileira de Cooperação.