Terra arrasada – e seca, muito seca. É assim que pode-se “resumir” a Amazônia com a estiagem extrema que atinge a região. Os rios vêm batendo sucessivos recordes históricos de baixa, e comunidades inteiras estão isoladas e com dificuldade de acesso a alimentos, serviços de saúde e água potável. Para piorar, o tempo seco contribuiu para a proliferação das queimadas, que atingem até mesmo a floresta úmida, situação atípica que pode virar um “novo anormal” amazônico.
A seca severa, efeito das mudanças climáticas agravado pelo El Niño, é mais um alerta sobre o futuro da região. A comunidade científica adverte que as mudanças climáticas e o desmatamento podem matar a Floresta Amazônica. A degradação geraria enormes emissões de carbono, desregularia o sistema de chuvas no continente e extinguiria centenas de espécies do bioma.
Em entrevista à DW, Carlos Nobre, climatologista do INPE e referência mundial em estudos sobre mudanças climáticas, reforça a possibilidade de colapso irreversível da floresta, como ele e outros especialistas vêm chamando atenção há tempos. Contudo, reitera que é possível reverter esse processo.
“Alguns cientistas dizem que o sudeste da Amazônia já atingiu o [ponto de] não retorno, nessa região a mortalidade de árvores aumentou e a floresta virou fonte [de emissão] de carbono. Mas outros, como eu, acham que não. Se conseguirmos zerar o desmatamento, a degradação e o fogo, e criar um grande projeto de restauração florestal em todo o sul da Amazônia, temos como reverter. Uma vez que a floresta secundária se regenere, ela consegue absorver muito carbono, baixar a temperatura e reciclar de forma muito eficiente a água, impedindo a chegada do não retorno.”
A agricultura de grande porte, que é uma das responsáveis pela crise climática ao ocupar áreas desmatadas na Amazônia, também paga seu preço. A escassez de chuvas afetou o ritmo do plantio de soja no Mato Grosso, o principal estado produtor da oleaginosa no Brasil, e pode impactar a semeadura do segundo milho, plantado após a colheita da soja, de acordo com a Reuters. Isso sem contar com o transporte fluvial desta safra, afetado pela secura dos rios.
E o cenário não deve mudar tão cedo. Segundo previsão divulgada na 6ª feira (27/10) pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, as chuvas devem continuar reduzidas no Norte. O fim da estiagem deve começar pelo sudoeste amazônico, mas será lento, segundo informações do INMET, do INPE e da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, do governo do Ceará, detalha a Folha. As precipitações, preveem as entidades, devem voltar em novembro, mas ainda abaixo da média para o período.