O cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, referiu-se a Francisco como “o Papa da Amazônia” e destacou que nenhum outro pontífice “nos alertou tanto e nos convidou tanto a cuidarmos da casa comum, a cuidarmos da natureza”.
Steiner enfatizou a preocupação constante de Francisco com as pessoas da Amazônia, mencionando especialmente os povos originários, a população em situação de pobreza e aqueles em maior necessidade.
Sua preocupação com o tema ficou clara com a publicação da encíclica “Laudato si” em 2015, na qual se destaca a atenção às questões ecológicas. O documento, que aborda a crise ambiental e a necessidade de ação global, impulsionou o pontífice a mobilizar líderes mundiais para enfrentar os problemas da Amazônia.
A presidência brasileira da COP 30, que acontece em Belém, em novembro, divulgou mensagem em que destaca a importância da publicação pelo papa da Encíclica Laudato Si’, em 2015, por inspiraram o consenso que, poucos meses depois, permitiu a adoção do histórico Acordo de Paris, na COP21, que determinaria objetivos a serem perseguidos pelos países para conter o aquecimento global.
“Papa Francisco foi não só um exemplo de dignidade humana, respeito e acolhimento, mas um ativista climático, defensor da natureza, das florestas e dos povos indígenas e comunidades tradicionais”, diz em nota a presidência da COP 30.
O arcebispo de Manaus recordou que, sempre que se encontrava com o Papa Francisco, ele perguntava: “E a nossa Amazônia, como vai? A querida Amazônia, como está?” Algo que, segundo ele, mostra a contínua preocupação do pontífice, “sempre entendendo a necessidade e sempre de novo nos incentivando, como Igreja, a ser uma Igreja muito presente, uma Igreja missionária, uma Igreja que ajuda na transformação social”, algo que aparece no texto que ele publicou em “Querida Amazônia”, resultado do sínodo de 2019.
No sínodo de 2019, Francisco convocou uma assembleia de bispos no Vaticano dedicada à Amazônia. A região, com 7,5 milhões de km², abrange nove países da América do Sul. Ela é conhecida por suas florestas tropicais com alta biodiversidade, mas enfrenta devastação por desmatamento, mineração ilegal e expansão agrícola. O sínodo buscou discutir os desafios da região e o papel da Igreja na defesa dos povos amazônicos e do meio ambiente.
No texto “Querida Amazônia”, o papa introduz o conceito de “pecado ecológico”, afirmando que “devastar a natureza é pecado”. Francisco também enfrentou a reação de conservadores ao permitir a utilização de imagens e símbolos de populações amazônicas em celebrações litúrgicas. O papa, ao defender a medida, comparou símbolos indígenas a vestimentas de líderes da Igreja.
Steiner recordou o gesto do Papa em 2022, quando o nomeou cardeal, um evento interpretado por diversos analistas da Igreja Católica como um reconhecimento da relevância estratégica da região amazônica para o futuro da Igreja.
“Ele nos ajudou muito na caminhada, especialmente aqui na Amazônia. Rezemos por ele, agradeçamos a Deus pelo Papa que tivemos e peçamos por um novo Papa que continue esta missão”, declarou Steiner.