O desmatamento é um problema crônico do Pará, que ocupa o topo do ranking da supressão vegetal no país. No último ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou uma devastação de 3.299 km² no estado. Ainda que o número seja menor que em anos anteriores, o cenário é desafiador porque grande parte tem origem em práticas ilegais.
“Só 3% do desmatamento no Pará é legal, e estamos falando basicamente de mineração e uma ou outra supressão autorizada para manejo em bovinocultura”, afirmou o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Raul Protázio Romão, em apresentação no evento Vozes do Agro, realizado pela Globo Rural e Valor.
Segundo Romão, essa realidade cria uma série de dificuldades porque o desmatamento ainda é visto como uma forma de valorizar uma área. Em suas estimativas, cada R$ 2 mil gastos para desmatar um hectare de área pública não destinada permite vendê-la depois por até R$ 15 mil. Essa lógica prejudica, por exemplo, a implementação de políticas mais sustentáveis e de baixo carbono.
“Essa é uma agenda que o Brasil precisava ter resolvido no século passado. Esperamos conseguir fazer isso para começar a falar de sequestro de carbono, redução de emissões de metano, plantio direto, coisas que poderíamos estar discutindo se ainda não tivéssemos que resolver desmatamento ilegal e grilagem”, disse o secretário.
Para isso, disse, o governo trabalha com estratégias de esclarecimento para que os produtores rurais percebam que a pauta ambiental é também uma agenda econômica e não regulatória. Raul Romão ressalta que práticas, como o pastejo rotacionado realizado em propriedades no sistema ILPF, são capazes de reduzir custos e aumentar o retorno financeiro ao mesmo tempo em que diminuem o impacto sobre o meio ambiente.
“O convencimento vem por aí, quando você demonstra que ele vai botar mais dinheiro no bolso com essas práticas que são, também, ambientalmente corretas e climaticamente mais inteligentes”, destacou.