Como publicamos no último mês, as novas regras para rotulagem nutricional que entraram em vigor em outubro trouxeram consigo a inclusão da frase “ALTO EM AÇÚCAR ADICIONADO” em méis compostos, podendo induzir o consumidor ao erro e até mesmo extinguir toda esta categoria.
Para entender mais sobre o mercado de mel brasileiro, o Pará Terra Boa conversou com a presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (ABEMEL), Andresa Berretta.
Consequências da mudança na rotulagem para mel composto
Andresa explica como a categoria do mel composto foi afetada pela mudança na rotulagem.
“A mudança de rotulagem nutricional vai fazer com que os méis compostos tenham a frase “alto em açúcar adicionado”, mas o produto não contem açúcar adicionado, ele só contém o próprio açúcar presente no mel que foi naturalmente produzido pelas abelhas. Então, a gente vai estar estimulando que as empresas deixem de utilizar o mel e passem a usar um produto muito mais barato que é o açúcar sintético. E ao usar uma frase equivocada, podemos estar fazendo com que os nossos consumidores de muitos anos pensem que foram enganados a vida toda”, avalia.
Maiores desafios do mercado do mel brasileiro
Para ela, a necessidade de profissionalização do setor é um dos principais desafios do mercado de mel nacional.
“Hoje a gente tem uma produção que pode ser maior e só não se exporta mais por falta de matéria-prima. Então, fomentar práticas de manejo adequadas e saudáveis para que não se tenha resíduos é uma medida bem importante para aumentar a quantidade de mel orgânico.”
Cultivo de abelhas sem ferrão
De acordo com a Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará), a criação de abelhas sem ferrão é uma realidade no estado do Pará, principalmente nas áreas de várzea, e chega a ser 30 vezes maior que a de abelhas com ferrão. Berretta afirma que essa cultura ainda tem um longo caminho pela frente para se desenvolver.
“A abelha sem ferrão está presente no Brasil inteiro. O desafio que temos hoje é que a produção de mel dessas abelhas é muito pequena, mas já existem comunidades e startups trabalhando na construção da reestruturação dessa cadeia. A meliponicultura é um trabalho que está começando agora e que tem um longo caminho pela frente para chegar nas quantidades que a gente produz hoje de mel de abelha Apis (com ferrão).”
Mudanças climáticas e abelhas do Pará
Segundo a presidente da ABEMEL, o desmatamento e as queimadas estão entre os principais fatores que têm espantado as abelhas do Pará.
“No Pará, particularmente, a gente tem visto pelos dados que há uma mudança muito grande naquele ecossistema. Então, toda vez que a gente vai desmatando e diminuindo a presença dessas árvores, que vai tendo queimadas, aquele ecossistema vai sendo mudado como um todo. E a mudança climática acaba acontecendo também com frequência. Isso tudo vai mudando o hábitat dessas abelhas”, finaliza.
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