Por Fabrício Queiroz
A sustentabilidade representa hoje um desafio para os países e as diversas atividades econômicas baseadas na exploração e degradação da natureza. Na Amazônia, esse tipo de prática contribui, por exemplo, para os elevados índices de desmatamento, porém alternativas a esses modelos de desenvolvimento já são uma realidade na região, tendo o Pará como referência.
Esse foi um dos apontamentos apresentados na mesa “Modelos de desenvolvimento sustentável da Amazônia”, realizada nesta sexta-feira, 15, durante uma conferência preparatória para a COP30, em Belém. Participaram do evento, o diretor do do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Henrique dos Santos Pereira; o secretário de estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Mauro Ó de Almeida; e o superintendente da SUDAM, Paulo Rocha sob a mediação da assessora da FINEP e pesquisadora do Museu Emílio Goeldi Ima Vieira.
Um dos destaques foi a apresentação de Henrique dos Santos Pereira, que propôs uma discussão sobre desenvolvimento a partir de uma perspectiva endógena (ou seja, de uma perpesctiva interna). A ideia era chamar atenção para as necessidades e capacidades da própria região de oferecer soluções para uma economia sustentável.
“Há uma grande probabilidade que modelos de desenvolvimento pensados a partir de um planejamento centralizado ou vindo de fora para dentro sejam modelos excludentes porque essa é a nossa experiência com esses modelos. O que eu proponho são modelos de desenvolvimento locais, dos territórios, de dentro para fora. São modelos baseados nas potencialidades e na cultura local”, afirmou Henrique Pereira.
Segundo o pesquisador, esses experimentos já estão em curso e podem ser visualizados em estratégias como a criação de reservas de desenvolvimento sustentável (RDS) e na valorização de produtos típicos, como é o caso da farinha Uarini e do manejo do pirarucu, no estado do Amazonas.
Em relação ao Pará, Henrique Pereira salientou a importância da agricultura familiar, que abrange um universo de mais de 239 mil famílias apenas no estado, o que representa cerca de um terço de toda a região.
“A agricultura familiar não é apenas responsável pela nossa segurança e soberania alimentar. Do ponto de vista ambiental, é também uma agricultura que tem um repertório de práticas conservativas do solo, da mata, contribuem com medidas mitigadoras para o clima e são mantenedoras da biodiversidade, além de que, na economia, a agricultura familiar é responsável por 50% do PIB agrícola”, apontou.
As apresentações também ressaltaram que a Amazônia vive um período de queda do desmatamento. Apenas no Pará, a taxa reduziu em 46% em um ano, segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
De acordo com Mauro Ó de Almeida, esse resultado é fruto do fortalecimento das ações de combate às ilegalidades ambientais. Além disso, essas iniciativas estão integradas a uma política pensada para promover uma mudança no modelo de desenvolvimento do estado, tendo como um dos eixos o Plano de Bioeconomia.
“Já implementamos mais de 50% das ações previstas e agora estamos em uma fase de elaboração de planos e projetos para implementação de sistemas agroflorestais e do Parque de Bioeconomia, que envolve um ecossistema de centros de conhecimento de biotecnologia, turismo de base comunitária, startups, gastronomia e o Museu da Bioeconomia”, declarou o secretário.
O titular da Semas pontuou ainda o papel da Plano Estadual de Recuperação Nativa que visa a regeneração das paisagens e produtiva com base em sistemas agroflorestais (SAF).
“Esse plano se conecta com o Plano de Bioeconomia e permitirá que a gente escale os sistemas agroflorestais, os pagamentos por serviços ambientais, o sistema jurisdicional de REDD+ e esteja preparado para a captação de recursos e formação de um colhão financeiro para que a gente faça a transformação ecológica por meio do mercado de carbono”, destacou.