Com 5.257 km² desmatados, o Pará foi responsável por 39,72% de toda a destruição registrada na Amazônia Legal em 2021. A área desmatada no Estado foi 7,31% maior que a registrada em 2020, quando foram devastados 4.899 km². Os dados foram divulgados nesta tarde de quinta-feira, 18/11, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), unidade vinculada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A estimativa da taxa de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira (ALB) foi de 13.235 km² de corte raso no período de 1 agosto de 2020 a 31 julho de 2021.
Esse valor representa um aumento de 21,97% em relação a taxa de desmatamento apurada pelo PRODES 2020, que foi de 10.851 km² para os nove estados da ALB.
Esta estimativa é fruto do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES). O mapeamento do PRODES é feito com base em imagens do satélite Landsat ou similares, para registrar e quantificar as áreas desmatadas maiores que 6,25 hectares.
O PRODES considera como desmatamento a remoção completa da cobertura florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas. A estimativa da taxa 2021 foi calculada a partir da análise de 106 cenas prioritárias de todos os Estados da ALB.
A Tabela 1 apresenta a distribuição da estimativa da taxa de desmatamento para o ano de 2021 nos Estados da ALB. Os Estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia correspondem a 87,25% do desmatamento estimado na ALB. Isso fica espacialmente explícito na Figura 1, que apresenta o mapa de ocorrências de desmatamento.
A Tabela 2 apresenta as variações da taxa para cada Estado entre os anos de 2020 e 2021. A análise desta tabela mostra um crescimento do desmatamento em todos os Estados da ALB. Deve-se ressaltar que o Estado com maior contribuição absoluta de desmatamento (Pará com 5.257 km2) também é o Estado com menor variação percentual de desmatamento (7,31%).
Metodologia
Para gerar esta estimativa, o INPE analisou um subconjunto de 106 cenas do sensor OLI/Landsat-8 dentro das 229 que recobrem a Amazônia Legal. As 106 cenas selecionadas como prioritárias atendem a três critérios:
- cobrir a região onde foram registrados pelo menos 90% do desmatamento no período anterior do PRODES (agosto/2019 a julho/2020);
- cobrir regiões onde foram registrados pelo menos 90% dos avisos de desmatamento do DETER 2020/2021; e
- cobrir os 54 municípios prioritários para fiscalização referidos no Decreto Federal 6.321/2007 e atualizado em 2018, 2020 e 2021 pelas Portarias No . 428, 161 e 9 do 19 de novembro de 2018, 15 de abril de 2020 e 11 de janeiro de 2021 do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A localização dessas 106 cenas é mostrada na Figura 2.
Para explicitar a confiabilidade da taxa obtida, o valor da estimativa do desmatamento foi simulado para 5000 conjuntos de 95 cenas selecionadas aleatoriamente dentre as 106 cenas prioritárias. Os resultados das medianas se mostrou bastante próximo das estimativas dos Estados baseadas nas 106 cenas e das médias.
A proximidade dos valores de tendência central mostrou uma boa capacidade preditiva, e a amplitude dos desvios padrões mostrou que a quantidade amostrada foi adequada. A Tabela 3 mostra os resultados (estimativa, desvio padrão, média e mediana) encontrados para cada um dos Estados e a Figura 3 ilustra os resultados.
A confiança nessa estimativa pode também ser observada pela grande quantidade de cenas usadas para sua geração. Com o uso das 106 cenas Landsat/OLI foi possível cobrir uma região com 95,4% das ocorrências de desmatamento no ano PRODES 2020.
Como o desmatamento é um evento com forte correlação espacial, a expectativa de ocorrência de muitos focos de desmatamento fora dessa área é pequena. As Figuras 4 e 5 mostram respectivamente a série histórica do PRODES para a ALB em km2 , considerando em 2021 o valor da estimativa apresentada nessa nota, e a variação percentual de um ano para o outro, para toda a série de taxas do PRODES.
O INPE reforça que os valores apresentados nessa nota são uma estimativa da taxa de desmatamento para o PRODES 2021. A taxa consolidada será apresentada no primeiro semestre de 2022 quando for completado o processamento de todas as 229 cenas que recobrem a ALB.
O INPE também informa que através do projeto Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros: Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal, financiado pelo Fundo Amazônia, e do projeto FIP FM Cerrado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) está produzindo mapeamentos PRODES para todos os biomas brasileiros.
‘É um duplo escândalo’
“Há um duplo escândalo que deve ser considerado. O primeiro é o fato de que a nota divulgada pelo Inpe é do dia 27 de outubro, ou seja, anterior à Conferência do Clima. Trata-se da primeira vez em que o Prodes não foi divulgado antes ou durante a COP. O governo federal foi a Glasgow já ciente da taxa de desmatamento, mas, ainda assim, não a informou para as Nações Unidas. Preferiu falar sobre outra métrica, o Deter, que apontava uma leve redução no desmate.
Outro fator chocante é o aumento em si do desmatamento, que ocorreu apesar de anos de investimento maciço na presença das Forças Armadas na Amazônia. Só comprova aquilo que era sabido por todos que acompanham a pauta ambiental: desmate se combate com planejamento e intervenções em áreas definidas de forma estratégica, e não pelo mero deslocamento de milhares de soldados, sem planejamento interno, para uma área de dimensões continentais. Se não houver uma mudança radical na abordagem, este avanço do desmatamento pode se tornar exponencial”, afirmou João Paulo Capobianco, que foi coordenador do Plano de Prevenção e Controle ao Desmatamento da Amazônia (2003-2008) e é membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações