A bióloga Ana Beatriz Brito Dias fez uma pesquisa de mestrado na Universidade Federal do Pará (UFPA) sobre riscos e perigos em praias estuarinas e marinhas do litoral amazônico. O trabalho, orientado pela professora Luci Cajueiro Carneiro Pereira, foi movido pela necessidade de avaliar as principais adversidades relacionadas à segurança dos frequentadores das praias paraenses. Essa pesquisa foi publicada na edição 161 (Dez/Jan/Fev) do jornal científico Beira do Rio, da UFPA.
Durante a pesquisa, foram analisadas as praias do Atalaia (Salinópolis), da Princesa (Maracanã), de Ajuruteua (Bragança), do Murubira (Mosqueiro/Belém), de Marudá (Marapanim), do Pesqueiro (Soure) e de Colares (Colares).
A coleta de dados ocorreu por 25 horas, em cada uma das praias. Foram observadas noções hidrodinâmicas (altura de marés, altura de ondas, direção e velocidade das correntes de marés) e morfodinâmicas, por meio das quais foram identificados canais de marés e afloramentos rochosos, além da observação direta com registros fotográficos dos principais fatores que geram riscos aos veranistas.
Nas praias Atalaia, Ajuruteua e Princesa, os principais perigos naturais identificados foram: elevação das marés, ondas, correntes marítimas, afloramentos rochosos, formação de canais e assimetria das marés. Entre os perigos antrópicos (causados por pessoas), destaca-se a presença de veículos na faixa intermarés, a falta de saneamento básico e o acúmulo de resíduos sólidos como os maiores perigos para os usuários do espaço.
“Em Ajuruteua, há construções irregulares à beira-mar que aceleram os processos erosivos, o despejamento de materiais da construção civil na praia (madeira, ferro e concreto), e propriedades com obras de contenção sem manutenção”, pontua Ana Beatriz Brito Dias.
Murubira, Marudá e Colares apresentam como riscos naturais os afloramentos rochosos e a formação de canais, com destaque para a alta declividade na faixa de areia da praia Murubira, em Mosqueiro. Nesses locais, os principais perigos antrópicos são o despejo de esgoto e resíduos sólidos sem tratamento, diretamente nas praias.
Animais marinhos
Marés e ondas não representam risco de afogamento em Pesqueiro, no Marajó. De acordo com a bióloga, Pesqueiro é um caso especial, porque está dentro da reserva extrativista de Soure e é muito bem controlada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As construções de casas e bares são regulamentadas e precisam de autorização, tornando o ambiente altamente preservado.
“O maior risco natural está relacionado aos acidentes com animais marinhos, principalmente arraias. Anualmente, tanto em Pesqueiro quanto em Colares, o número de acidentes com esses animais é alto, mostraram os dados cedidos pelos salva-vidas”, revela a pesquisadora.
De acordo com Ana Beatriz, a falta de um sistema mais eficiente de segurança praial e a falta de percepção dos visitantes sobre os riscos que as praias oferecem aumentam as chances de acidentes e afogamentos.
“Não existem sinalizações sobre as condições de banho ou sinalizações de áreas de riscos. O monitoramento efetivo por salva-vidas ocorre mais intensamente durante as férias escolares e em feriados prolongados. Na maioria dos casos, o número de salva-vidas nas praias é pequeno, comparado à extensão desses ambientes e ao número de visitantes na alta temporada”, alerta.
De acordo com a pesquisadora, os problemas naturais (condições oceanográficas, altura de marés e ondas, mudanças no perfil praial, afloramentos rochosos e aparecimento de animais aquáticos) devem ser monitorados pelas autoridades competentes, pelo Corpo de Bombeiros/Salva-vidas e pelo grupo de Gerenciamento Costeiro Paraense.
Em Mosqueiro, o lixo é responsável por 16% dos acidentes nas praias. Assim, a limpeza efetiva é a principal recomendação.
“Melhorias na infraestrutura física e a construção de redes de esgoto, assim como o monitoramento mensal da qualidade da água, são soluções sugeridas para os problemas de contaminação direta da água balnear”, sugere.
Por fim, o estudo propõe a criação de um plano estadual de segurança praial, com informações sobre as condições climáticas, de banho e, principalmente, sobre potenciais riscos de acidentes.
A ferramenta seria útil e de fácil acesso aos gestores praiais e aos veranistas. “O Pará tem mais de 550 quilômetros de linha de costa. São praias ricas em paisagens e culturas, que devem ser gerenciadas de forma consciente, destacando a preservação dos ambientes e servindo aos interesses turísticos e econômicos”, conclui a autora do estudo.
Fonte: Revista Beira do Rio edição 161, da UFPA