Mais de 20 anos atrás, pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) iniciaram um estudo piloto para integrar pesquisas ecológicas de vários organismos, monitorando a biodiversidade em áreas da vila balneária de Alter do Chão, no município de Santarém, no Pará.
O estudo acaba de ganhar novo destaque com a publicação de mais um trabalho científico. O artigo Long-term standardized ecological research in na Amazonian savanna: a laboratory under threat (Pesquisa ecológica de longa duração em uma savana amazônica: um laboratório ameaçado, em tradução livre para o Português), publicado no início deste dezembro de 2021 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, sintetiza algumas respostas às três principais questões elaboradas pelos pesquisadores anos atrás.
“Este estudo é importante porque sintetiza os esforços de pesquisa conduzidos por diversos grupos de pesquisadores. Pesquisa que resultou no avanço do conhecimento científico sobre a biodiversidade das savanas, na formação de jovens cientistas e no auxílio à criação de políticas públicas que beneficiam os moradores da região de Alter do Chão”, destaca o pesquisador da Ufopa, Rodrigo Fadini, que integra o PELD Oeste do Pará (Popa).
De acordo com as conclusões publicadas, o fogo e o solo são importantes para a manutenção da tensão entre a floresta e a savana. A textura do solo mais argilosa e a maior concentração de potássio nos solos das florestas do que das savanas beneficia a formação e manutenção de uma estrutura mais arbórea. O solo interage com o fogo, que só adentra às florestas em anos de estiagem prolongada.
Concluiu-se também que o fogo parece não afetar populações de roedores e de lagartos que habitam as savanas da região. Esses animais desenvolvem estratégias comportamentais que permitem maior resiliência. Já a estrutura da vegetação das savanas é fortemente afetada pelo fogo, o que pode prejudicar alguns animais indiretamente.
A fragmentação natural que ocorre em frações florestais em Alter do Chão parece afetar alguns grupos de espécies (como árvores, aves e formigas), mas não outros (como morcegos e pequenos mamíferos não voadores). “As estratégias desenvolvidas pelas espécies para superar a matriz de savana que circunda os fragmentos parecem ser fundamentais para determinar as respostas de cada grupo”, esclarece Fadini.
De acordo com o pesquisador, o desenvolvimento de pesquisas na região ajudou na criação da Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão em 2003, iniciativa com forte participação popular. No entanto, ela não foi suficiente para ordenar a ocupação do território pelos empreendimentos imobiliários na região.
“Nos últimos anos, diversas parcelas foram destruídas por loteamentos clandestinos, construções irregulares, construção de estradas e outros empreendimentos que não levam em conta a existência de uma Unidade de Conservação ali”, enfatiza Fadini.
Além disso, após quase 20 anos de sua criação, a APA Alter do Chão ainda não produziu seu plano de manejo, gerando insegurança para a continuidade das pesquisas.
“Apresentamos os resultados desses estudos padronizados realizados nas savanas e fragmentos florestais próximos a Alter do Chão, mas também discutimos os prospectos futuros e as ameaças ao sítio de estudo, ressaltando a importância de incorporar os moradores de Alter do Chão no planejamento de uso da terra daquela região”, conclui.
Fonte: Renata Dantas, Comunicação/Ufopa