Considerados berçários da vida marinha, os manguezais são ambientes delicados e de grande importância para a manutenção da biodiversidade. Devido à sua vulnerabilidade e a diversos processos de exploração predatória, muitos mangues acabam impactados pela ação humana, porém na Amazônia grande parte ainda permanece preservada.
Essa a principal conclusão de um projeto desenvolvido por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades Federal do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA). Os dados publicados em artigo nos “Anais da Academia Brasileira de Ciências” mostram que menos de 1% da área total dos mangues na região foi convertida por atividades como a expansão urbana e a construção de estradas.
Para chegar a esse resultado foram analisadas imagens de satélite de alta resolução capturadas entre os anos de 2011 e 2015, que foram comparadas com imagens antigas da região. O conjunto abrange uma área de 7.820 km², com planícies de maré vegetadas com cerca de 30 a 40 quilômetros de largura, ou seja, cobertas por florestas. Além disso, foram identificados apicuns na área, que são planícies salinas conectadas ao manguezal.
“Os manguezais da Amazônia brasileira são os maiores e mais bem conservados manguezais do planeta”, explicou Pedro Walfir Martins e Souza Filho, um dos autores do trabalho em entrevista à Agência Bori.
Um exemplo desse alto grau de preservação foi notado no município de Bragança, no nordeste do Pará. Na região, foram encontrados pontos de degradação relacionados à construção da rodovia PA-458. Por outro lado, os cientistas salientam que a possibilidade de acesso ao local garantiu a ampliação do conhecimento sobre o ecossistema da área.
Já em relação aos apicuns, a pesquisa revelou que esses territórios foram os mais afetados pela ação humana, com a degradação alcançando cerca de 2% dessas áreas salgadas. Para Pedro Walfir, há diversos aspectos que explicam a diferença no nível de conservação. Um deles é a própria legislação ambiental, que permite a exploração do apicum, enquanto que os mangues são considerados áreas de preservação permanente.
Reservas extratvistas ajudam a preservar
Outro fator que ajudou na conservação dos mangues é a criação de reservas extrativistas na costa, onde é permitido o uso sustentável dos recursos naturais pelas populações tradicionais. Além disso, deve ser levado em conta as características de cada ambiente que podem facilitar ou dificultar o uso predatório. No caso dos mangues, a cobertura florestal se estende por cerca de 92% da área, ajudando assim a proteger esse habitat.
“No manguezal, temos uma floresta de 20 metros de altura, então é mais difícil fazer uso desta área em meio a extensos depósitos de lama”, comenta o pesquisador.
Apesar do cenário favorável na Amazônia, Pedro Walfir lembra que grandes alterações já podem ser notadas em manguezais da Índia, Bangladesh e Nova Guiné, por isso é preciso agir preventivamente e fortalecer medidas de conservação.
“Partimos da hipótese de que os manguezais da Amazônia precisam de uma política especial para que permaneçam nesse estágio de conservação e que não se permita o avanço da degradação como vem ocorrendo em outros lugares do mundo”, conclui.